14/05/10

Princípio



Outro poeta, a que me é difícil não retornar. Como o pseudónimo o designa, a sua poesia, como a torga, irrompe da aridez dos solos com uma força de raíz que arrebata, e comove...

Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

3 comentários:

Nelson Ricardo disse...

Muito belo o poema. A melhor estrada para o Conhecimento e a Verdade é a recusa de quaisquer deuses e a aceitação da Realidade como ela é.

Fernando Samuel disse...

Não ter nenhum deus não é estar sozinho...

Um beijo.

svasconcelos disse...

Nelson Ricardo: É belo sim, e os deuses, sabe-se, comprovadamente, que não solucionam nada nem fazem "milagres"... bjs,

Fernando Samuel: pois não, e como diz o Nelson Ricardo, podem ser fonte de desconhecimento do essencial... Beijo,