31/08/10

Até já


Eu sei que este não é o deste ano, mas acham que eu resistiria a postar este cartaz?!!:))))))
Vemo-nos na festa, então. :))

29/08/10

Miragem

... na deambulação modorrenta dos domingos, abri um livro de Torga (Antologia Poética) ao acaso, para postar este poema:

Passa um navio ao largo dos meus olhos
(os meus olhos, agora, são azuis,
Imensos e navegáveis...).
Passa moroso, como um desejo
Insatisfeito.
Passa, e morre desfeito
Em bruma de ilusão
Na curva do horizonte cruciante
Que cerca a solidão
de quem sonha, tolhido, um cais distante...

Miguel Torga

28/08/10

Triste teste

Este vídeo é dos mais chocantes que vi ultimamente. Lastimável, vergonhoso, triste...
Deparei-me com o mesmo no facebook, através de um amigo, e perturbou-me de tal forma que achei que o devia denunciar por todas as formas possíveis.
O racismo é ignominioso e desonroso da condição humana. E é cruelmente incentivado desde a infância.
Este teste é triste, de facto triste.:((
E indecente!

26/08/10

Ramos da mesma raíz

José Sócrates foi a Mangualde responder ao discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal. Ora, como este nada disse, aquele nada adiantou. O Pontal foi um equívoco. Mangualde, uma inutilidade. Entendamo-los, aos dois comícios, como puro exercício eleitoralista tocado a quatro mãos, ou troca de correspondência pública entre duas pessoas que não sabem o que fazer com Portugal.

Porque a questão é essa. O "meu remorso de todos nós" de que o O'Neill falou, terna e amargamente, continua a ser "golpe até ao osso / fome sem entretém." Mas Passos e Sócrates não são exemplares únicos: eles repre-sentam, tipicamente, no sentido lukacsiano do termo, a ausência de nação, a inexistência de correcção tácita, a falta de referentes culturais. Foram estes, os referentes culturais, que formaram as melhores gerações de portugueses. Tínhamo-nos em que nos apoiar; sustentávamo-nos com os exemplos e, com isso, suportávamos o quase insuportável.

Tanto Sócrates como Passos na- da nos dizem. Não possuem back-ground, são produtos do mesmo berço ideológico que se rege pela carência de ideologia; procedem de uma intenção "doutrinária" sem graça, sem imaginação e, sobretudo, sem aquela grandeza que converte a esperança em sonho e o sonho em destino. A política, para ambos, é uma organização de agenda, um empreendimento sem qualidade áurea, que vive dos telejornais da noite, enfim: uma teologia estabelecida por assessores, que depaupera o humano e liquida a mais leve insubmissão. Atentemos nos discursos do Pontal e de Mangualde: são intervenções destinadas ao pressuposto, muito semelhantes porque nenhum dos protagonistas arrisca, desafia, afronta, desinquieta - e é incompetente para mudar, alterar, reconstruir do que sobra das cinzas. Nós não figuramos nos seus projectos, porque eles apenas alimentam projectos pessoais de poder.

Os portugueses têm dificuldades múltiplas em se adaptar a este tempo, marcado pela indiferença, pela má-fé, pela traição e ilustrado pela ignorância triunfante. O friso de "notáveis", apresentado, diariamente, pelas televisões, não é um parêntesis temporário, espelha as evidências que delimitam o nosso futuro. E isso tem medo.

Todos criticamos, de um modo ou de outro, estes senhores, mas eles resultam das nossas inépcias e das deficiências culturais que nos não abandonam. Pontal e Mangualde são ramos da mesma raiz, expressões melancólicas e desventuradas de um país cabisbaixo, desprovido de paixão e de fervor.

Vivemos no mito de que a democracia agitaria o nosso histórico torpor e edificaria a nossa risonha felicidade. Mas a democracia tinha mais que fazer do que se preocupar com ninharias. Sócrates e Passos garantem que o sonho perdeu toda a vigência.


Baptista Bastos, in DN de 25/08/2010

23/08/10

Niños de la calle



...De todas, a mais bonita canção de Patxi Andion!

La casa se queda sola



Para a Maria, que me permitiu conhecer este cantor. A minha alma enlevou-se...
Lindo!

Tu não...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner


" Se carácter custa caro, pago (pagamos) o preço..."

Memórias...



Para mim, a nova grande diva do fado...

22/08/10

Pelos homens, pelas mulheres...

"Pelos homens, pelas mulheres, pelos trabalhadores

pelos meninos tristes suburbanos, pelas viúvas sós e rurais,

contra o peso da impotência, contra o medo,

contra a mentira e a calúnia e tudo o mais

contra a exploração e a miséria, a fome e a sede"


(Surripiado do blogue "Anónimo Sec XXI)


16/08/10

O Francisco, no trilho das aves


Há pouco folheava um livro já lido, por gostar de revisitar memórias que os livros gravaram no meu percurso. Já terei tecido muitos comentários sobre este livro, porque é mesmo uma referência que pode ser lida sob vários prismas, que o cristalino de cada alma apreende. Percorre um período político onde homens extraordinários empunharam a própria vida para resgatar a Liberdade de um povo. Caminha sobre referências históricas e acompanha menções a outros livros, tão notáveis quanto este. Foram vários os marcos que se me gravaram por este livro, mas entre eles, hoje debruço-me sobre um que me fez, na altura (e ainda hoje) reflectir imenso: o dilema do perdão, ou mais concretamente, mediante uma traição execrável de um amigo (no caso descrito no livro) a capacidade estóica e firme de não se deixar corroer pelo rancor e revanchismo.

Francisco, o protagonista, cresce diante de nós, leitores, de início com a impetuosidade de quem se arroja veementemente contra a exploração a que os seus eram sujeitos, escravos de um regime déspota que dizimou tantos combatentes. Francisco era um homem movido pela paixão, que se expressava no empenho que dispunha nas suas causas e lutas, e pela exaltação de valores excelsos que a humanidade inventou como a Amizade, a fraternidade, a camaradagem...
Com o tempo, e é fascinante assisti-lo pela leitura e pelo exercício da imaginação concomitante, revemos no Francisco a maturidade que se vai edificando, não pelo passar dos anos, mas pelas suas leituras, pelas suas vivências, e pela entrega que devotou a um Ideal, onde se embarca a Amizade, e nesta, implicitamente, a Lealdade.
Das amizades que edificou, uma era-lhe particularmente especial, a do Luís. Se me recordo ainda, era porque este seu amigo, pouco mais velho, simbolizava para o Francisco um elo de partilha cúmplice na conivência com o gosto pela aprendizagem, pela discussão e pelo delineamento de estratégias de Luta em que ambos tomavam parte. O Francisco nutria pelo Luís uma admiração imensa que se firmava na camaradagem que os unia.

Um dia, "o cantar do galo fez-se ouvir" e talvez antes do terceiro som, o Luís atraiçoou o Francisco, covardemente, porque não o defrontou na assumpção do seu crime. E degradantemente, porque a vileza da traição a um amigo, preso, que ancorava a sua força e coragem na determinação das suas crenças, que incluíam um grande amor, que o melhor amigo lhe furtara pela surdina da sua mesquinhez, é um dos crimes morais que mais repugnam e definham o brio de um Homem.

Relatar o sofrimento do Francisco é inútil, pelas parcas palavras que existem para o descrever, e o quase abandono de si próprio nos corredores sombrios e gélidos de uma prisão, entre urros e gemidos que o lançaram, por fim, na solidão.
Mas a Amizade infunde-se nestes momentos e o Francisco, socorrido por quem o amava, os Amigos, lentamente foi-se reerguendo do torpor imposto por tanta, tanta dor...

Um dia, volvido muito tempo, anos, e quando já a sua vida se reafirmara no que sempre o movera, um Ideal de Luta em prol de multidões, tendo na mira a Liberdade e a Igualdade como valores supremos de uma sociedade mais justa e onde o esclavagismo, mascarado de tantas formas, seria abolido, reencontrou Luís, o amigo que julgara sê-lo...

E este momento é para mim, um dos mais marcantes do livro, pois aqui se expressou o expoente máximo de maturidade e humanidade que um ser humano, belíssimo, como o Francisco se fez, pode alcançar. Na divagação dos seus pensamentos ao longo dos anos que permearam este encontro, muitas eram as incertezas emotivas que assaltavam o Francisco. Ora dominava-o, ainda, uma tristeza imensa, de raíz profunda que a memória resgatava; por vezes a ira, mesmo que atenuada, se interpunha à luta interna que este homem debatia consigo mesmo no alcance da capacidade de perdão ao seu amigo, ao seu camarada... E eis que chegou o momento inevitável: o reencontro de amigos, que timidamente se defrontavam, também na sequência das responsabilidades partilhadas dentro do partido, e que em parceria assumiam obrigações que lhes haviam sido confiadas pelo mesmo.

Francisco perdoou Luís, o que não significava que doravante a amizade entre ambos se restabelecesse. Na verdade não seriam amigos. Mas qualquer rancor ou mágoa dissipar-se-iam para sempre de Francisco, conferindo-lhe a imensa liberdade da paz dentro de si.

Há feridas , que por mais que cicatrizem , não podem ser contornadas como se nunca tivessem sangrado. A dor tem o poder de minar a existência e inscreve-nos o destino (reescreve-o até), gravando-se dentro de nós, entre raízes tão fundas, que a memória, de ora em vez, revisita.
Mas ser capaz de perdoar e caminhar nos trilhos das aves como o Francisco, amenizam a compressão inquietante de sentimentos que dizimam a existência de cada um de nós.

Bem-hajam os Franciscos deste mundo!


Adenda: O livro de que falo, claro, é "O caminho das aves" de José Casanova.

Paixão


Esta é a "Bia", uma gata que eu amadrinhei e que "demoliu" a casa de duas amigas minhas , a quem a confiei. Despesas de fora ( e que não me foram - ainda - reclamadas), a "Bia" , mesmo sendo uma terrível destruidora de móveis, flores e "bibelots" foi bem recebida e acarinhada pelas novas "donas" (prefiro denominá-las de amigas). Eu diria, que é mesmo "venerada" por elas e o resultado está à vista: é linda e bem cuidada.Qual deusa felina...:))

Esta foto, remete-me a Bastet (também protectora das crianças), a deusa de cabeça de gato que os protegeu , conferindo-lhes características divinas ao ponto de alguns povos velarem a morte de um gato, enlutando-se e mumificando-os.
O fascínio por estes seres é secular, desde o Egipto onde os veneravam, reconhecendo-lhes utilidade e "poder". Para os Celtas o gato teria 9 vidas, e na Idade Média "apenas" 7, época em que foi personificado com o mal, acreditando-se mesmo que os gatos pretos eram uma encarnação demoníaca. Mesmo perseguidos neste período, esta é outra prova do enorme fascínio que os felinos (falo dos domésticos) exerceram no Homen, ao longo dos tempos.
Adquiriram ainda outras simbologias, por exemplo para os japoneses é sinal de sorte e para os budistas é símbolo de sabedoria.
A verdade é que é difícil ser-lhes indiferente. Por mim, é notório, tenho uma enorme paixão por este seres. :))
Suspeito mesmo, que, de algum modo, me ditaram o destino. O profissional, pelo menos...:)

13/08/10

Às vezes o amor



Do novo álbum do Sérgio Godinho: Ligação directa.

11/08/10

Ainda (e sempre!) António Dias Lourenço

Por Bruno Dias, um texto de António Dias Lourenço carregado de uma ternura sem par, que enternece e comove até às "lágrimas felizes":
"De tudo o que António Dias Lourenço fez e disse, é esta a memória mais marcante que guardo dele. Foi um revolucionário de corpo inteiro e de vida inteira, um lutador transbordante de amizade e de ternura. Depois de torturado quase até à morte, preso no forte de Peniche, este meu camarada escrevia isto:

Peniche, 14-IX-1965
Meu filhito muito querido
[...]
E quase, quase que apostava que não conheces os bonecos de hoje do paizinho. Ora, quem havia de ser!... O nosso ursinho «Papusso», o coelhinho «Rabino», o Ti João Gadelha e mais os irmãos mais pequeninos do Rabino.
Mas que paparoca estarão eles a comer?
Pois é, os marotos andavam todos a comer as cenouras da horta do Ti João Gadelha e nem se lembravam que ele tinha de vendê-las no mercado para comprar sapatos e vestidos e calções para os seus meninos.
- Que é lá isso, patifórios, a comerem as minhas ricas cenouras… - gritou o Ti João quando os viu no meio da horta.
Os irmãos pequeninos do Rabino ficaram muito atarantados mas o Rabino alçou o rabete, alisou os bigodes e disse para o Ti João:
- Ti João Gadelha, não seja mau que nós temos muita fomeca. Que havemos nós de comer, não me diz?
O Ti João Gadelha não é mau lá isso não. Ficou um bocadinho calado a olhar para eles, pôs um dedo na cara pensativo e depois disse-lhes:
- Bom, vou dar-vos de comer, mas cenouras não que me fazem falta. Maria! Maria! Traz duas malgas de milho para esta freguesia! E todos contentes, o «Papusso» a dar aos irmãozinhos pequenos do «Rabino», comeram umas belas pratadas de milho amarelinho. E o Ti João lá ficou a vê-los com as suas bogodaças negras arrepanhadas num sorriso.
Afectuosos abraços aos Padrinhos e um xi-coração apertado e beijinhos cheios de ternura e saudades do
Pai"

09/08/10

"Das Pessoas que Atingem Posições Elevadas"

Lia, há minutos, num jornal online, que um encenador "da nossa praça", conhecido pela encarnação da Broadway em Portugal (ironia minha, que não aprecio a referida "imitação") agrediu uma costureira, ao empurrão.
O mesmo encenador colecciona, ao que parece, inúmeras histórias de maus-tratos aos seus colaboradores, quer sejam artistas ou técnicos dos bastidores...
Quando a imprensa o confrontou com a acusação da funcionária agredida (que trabalhava com ele há muitos anos) a sua resposta foi, a meu ver, tão infame e asquerosa (é mesmo assim, sem piedade na adjectivação!) quanto o seu acto, baixo e abjecto.
Ei-la : "... Quanto a isso, não vou perder tempo a falar de uma mera costureira."

Por mais palavras que conheça para coadunar a qualificação que atribuo a semelhante resposta, por decoro e por respeito por quem por cá passa, vou contê-las...
Recorro antes a Withman e ao seu tom corajoso e livre:



Das pessoas que atingem posições elevadas,
cerimónias, riqueza, erudição, e similares:
para mim tudo isso a que chegam tais pessoas
afunda diante delas — a não ser quando acrescenta
um resultado qualquer para seus corpos e almas —
de modo que elas muitas vezes me parecem
desajeitadas e nuas, e para mim
uma está sempre zombando das outras
e a zombar dele mesmo ou dela mesma,
e o cerne da vida de cada qual
(a que se dá o nome de felicidade)
está cheio de pútrido excremento de larvas,
e para mim muitas vezes esses homens e mulheres
passam sem testemunhar as verdades da vida
e andam correndo atrás de coisas falsas,
e para mim são muitas vezes pessoas
que pautam as suas vidas por um hábito
que a elas foi imposto, e nada mais,
e para mim é gente triste muitas vezes,
gente afobada, estremunhados sonâmbulos
tacteando no escuro.

Walt Whitman

07/08/10

"O Pântano existe mesmo"


Por António Godinho Gil:

Em qualquer país do hemisfério ocidental, em circunstâncias idênticas, já o actual Procurador Geral da República se teria demitido. A sucessão de trapalhadas desde que o inquérito do caso "Face Oculta" lhe caiu em cima da secretária, proveniente de Aveiro, em Junho, vão desde a simples incompetência à ignomínia. Passando pela mentira descarada. Como é possível que os principais visados nas escutas então em curso tenham, logo no dia seguinte à recepção dos autos, trocado de cartão telefónico - mencionando expressamente o facto de terem tido conhecimento nessa data que estavam a ser escutados, segundo as conversas divulgadas pelo "Sol" - sem que nenhuma responsabilidade pela fuga de informação tenha sido imputada a Pinto Monteiro? Como se explica que tenha negado sempre que tenha havido pressões do procurador Gomes da Mota para com os investigadores - uma estrela de primeira água da constelação rosa que cintila nas instituições judiciais, onde os favores de ocasião e a produção legislativa encomendada ad personae são a regra (vejam-se algumas alterações constantes da última reforma do Código de Processo Penal, que vieram mesmo a calhar à "Fatinha" de Felgueiras) - mesmo depois de o magistrado ter sido afastado da Direcção do Eurojust, devido à comprovação de essas pressões terem mesmo sido feitas? Como aceitar, por fim, que Pinto Monteiro tenha afirmado por várias vezes aos jornais que Sócrates seria absolvido no caso Freeport? E numa altura em que ainda decorria o inquérito!!! Pressões sobre os magistrados que dirigiam a investigação? Que ideia! O facto de Sócrates não ter sido inquirido no caso, devido à magistrada Cândida Almeida, directora do DCIAP, não ter emitido despacho em tempo útil, é o cúmulo do servilismo. Confesso que, no inicio, a figura me era simpática. Não só por ser originária do distrito da Guarda, mas sobretudo pelo corte que, acreditava eu, representaria com o passado. Mas depois, foi o que se viu. Portanto, só há que dizer: "Demita-se, senhor procurador! Não tem outra saída!"

04/08/10

Maria Bethânia, Caetano Veloso e Dona Canô cantam Oração da Mãe Menininha



Belo, de tão ternurento e comovente...

(mais um) ODE AO GATO


Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"

* ( Na imagem, um amiguinho chamado "Sebastião")

02/08/10

A despedida


Irrepreensível esta interpretação da Chavela. Creio que este é o seu último álbum.

"Até logo, coração da terra, amor dos meus amores...
Parto"

Soneto ( de amor)


Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.


António Gedeão