28/04/11

Amigo



Para o Fernando Samuel do Cravo de Abril:

"Amigo, toma para ti o que quiseres,
passeia o teu olhar pelos meus recantos,
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
com suas brancas avenidas e canções.

2.
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este inútil e velho desejo de vencer.

Bebe do meu cântaro se tens sede.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este desejo de que todas as roseiras
me pertençam.

Amigo,
se tens fome come do meu pão.

3.
Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhares verás na minha casa vazia:
tudo isto que sobe pelo muros direitos
- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar nas mãos o que se esconde dentro,
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio... "


Pablo Neruda


(um beijo amigo!)
:))

24/04/11

20/04/11

Cuba e a Revolução



"Os média trataram o VI Congresso do Partido Comunista Cubano como um Congresso em que tudo está decidido à partida «pelo chefe», dando simultaneamente a ideia de um País que resiste desesperado economicamente à inexorável marcha do fim do socialismo. Mas a realidade é outra. O que sobressai destes dias de Congresso não é qualquer imobilismo, centralismo burocrático ou «entrincheiramento» desesperado.

O que sobressai deste Congresso é em primeiro lugar uma importantíssima e ampla participação e discussão colectivas. O VI Congresso foi o culminar de um extraordinariamente amplo debate envolvendo 1000 delegados ao congresso eleitos nos 61 000 núcleos do Partido, mais de 800 000 militantes do PCC e cerca de oito milhões de cubanos que num admirável processo de democracia participativa tiveram oportunidade de participar directamente na definição da política económica e social de Cuba.

Trata-se de facto de uma gigantesca discussão colectiva sobre a actualização do modelo económico e social do PCC e da Revolução socialista. Uma discussão que iniciou a sua fase decisiva em Novembro do ano passado e que resultou no assinalável facto de cerca de 70% das 291 teses postas à discussão terem sido alteradas, tendo algumas mesmo sido abandonadas de acordo com as opiniões recolhidas, assim com outras (36) acrescentadas com base em propostas apresentadas.



Em segundo lugar, o que sobressai deste Congresso não é qualquer desespero. É antes uma acção e discussão decididas que, não ignorando problemas e dificuldades, não fugindo à autocrítica e não escamoteando erros, não negando a necessidade de ulteriores confirmações que possam prevenir erros e contradições, exigindo rigor e responsabilidade, lança o País numa autêntica batalha pelo aperfeiçoamento do modelo económico e social socialista partindo da experiência acumulada e das lições entretanto retiradas.

Uma acção e discussão que, partindo do princípio de que o Socialismo é o sistema que melhor serve os interesses e aspirações do povo de Cuba, se volta para o futuro e para o fortalecimento da Revolução socialista. Uma acção e discussão decididas que tendo como ideia central desenvolver a economia, a sua capacidade produtiva, torná-la mais eficiente, descentralizada e justa, mantém os princípios da propriedade social e da planificação económica, e reafirma que, como disse Raul Castro, nenhum cubano será deixado desamparado e que as conquistas da Revolução que – apesar do criminoso bloqueio a que Cuba é sujeita há meio século – no plano da saúde, da educação e da protecção social fazem Cuba pertencer ao grupo de países com índice de desenvolvimento humano elevado, são para manter e mesmo aprofundar.



Cuba, como referem os próprios dirigentes cubanos, não é «o paraíso na terra», seria difícil sê-lo quando se é o alvo de ataques económicos, terroristas, diplomáticos, mediáticos e ideológicos há mais de meio século. Mas que este Congresso vem demonstrar mais uma vez é que o povo Cubano sabe pensar pela sua própria cabeça, que está determinado em continuar a ser ele próprio a decidir dos seus destinos, que está disposto a tomar nas suas mãos a defesa dos seus próprios interesses, aspirações e direitos e a defesa da independência da sua pátria, isso é uma verdade.

Uma verdade que é explicada pelos princípios reafirmados neste Congresso, pela própria história de Cuba e, nomeadamente, pelas efemérides que se comemoram nestes dias em Cuba: os 50 anos da proclamação do carácter socialista da Revolução e a vitória sobre os Estados Unidos, a CIA e os mercenários ao seu serviço, na batalha de Playa Giron. Um acontecimento que «casou» definitivamente a luta pela independência à construção do Socialismo, uma extraordinária vitória militar que só foi possível porque o povo cubano tomou consciência e acreditou na força determinante da sua unidade e no poder imenso das massas populares em movimento. E é isso que apaixona e nos dá confiança ao olhar hoje para aquele povo e para a sua Revolução. "

Por Ângelo Alves, in jornal Avante (19/4/11)

16/04/11

Bilhete para o amigo ausente



Lembrar teus carinhos induz
a ter existido um pomar
intangíveis laranjas de luz
laranjas que apetece roubar.

Teu luar de ontem na cintura
é ainda o vestido que trago
seda imaterial seda pura
de criança afogada no lago.

Os motores que entre nós aceleram
os vazios comboios do sonho
das mulheres que estão à espera
são o único luto que ponho.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

12/04/11

José Mário Branco - FMI (ao vivo/audio) parte 2

Como é que se pode deixar que "eles decidam tudo por nós"?!!

FMI - José Mário Branco (sem censura) 1de 2

Agora, como há 3 décadas...

08/04/11

Marcha pelos animais



Os tempos estão difíceis e existem tantas lutas urgentes por travar, mas esta não é uma causa menor. Como diz o amigo Mário do Trepadeira, "Não são brinquedos, são seres vivos!".

Mouseland

Uma fábula que se adequa à política de alternância ps/psd que os portugueses têm defendido nas últimas décadas:

07/04/11

A Madeira... é um jardim *

** "Partiram sem grandes expectativas. Manhã cedo e sol tímido. Esperava-os uma jovem desconhecida, de sorriso transparente. Estavam apreensivos quanto ao número de participantes na sessão para a qual tinham sido convidados. O tema era Maus Tratos Infantis , a organização pertencia ao Partido Comunista da Madeira, teria lugar numa sexta-feira durante a tarde, num hotel da cidade velha. Quem estaria presente, para além de militantes e simpatizantes do partido organizador? Mas a sala estava cheia - e quem promovia o evento perguntava entre si quem era quem, uma vez que não conhecia metade dos presentes.
Eles já tinham ganho. Sentiram-se mais livres pela maturidade manifestada por todos aqueles profissionais, que já conquistaram o seu lugar ao Sol - Sol que escolhem sem paternalismos nem medos. O debate durou para além da hora prevista. Ficou o embrião de uma delegação da Rede de Cuidadores na Madeira. Como não arrumam as pessoas por partidos, mas procuram escolhê-las por acções e práticas, sentiram-se disponíveis para voltar, a convite seja de quem for. A procissão ainda vai no adro. Pela noite, enquanto comiam espada com banana ou espetada em folha de loureiro, foram avivando o conhecimento da luta travada naquela região autónoma, durante anos, pelo padre Edgar, no que respeita à prostituição infantil, à pedofilia, à pobreza radical que está geralmente na origem destes fenómenos. Hoje, a realidade parece ter mudado para melhor mas como em todo o mundo estes crimes não deixaram de existir. O padre Edgar foi preso por lutar pelos mais frágeis dos seus conterrâneos - enquanto o padre Frederico foi comparado numa outra Quaresma, pelo bispo emérito da Madeira, a «Jesus Cristo no percurso da Paixão». Não adianta escandalizarmo-nos - o que é preciso é convertermo-nos. Só a verdade é libertadora em tempos de tanta hipocrisia. Sexta-feira à noite já as expectativas tinham transbordado tudo o que haviam previsto. Havia interlocutores que, mesmo perseguidos, resistiam - serenos e sem ódio. A serenidade de quem sofre perseguições em nome da Justiça sempre os espantara, embora alguns acreditem que esses são os bem-aventurados.

No sábado, antes do regresso, foi o tempo das peregrinações . De manhã, ao centro da cidade do Funchal - que o grupo há um ano tinha visto submerso nas imagens televisivas e onde hoje quase não há sinal da catástrofe. Lá em cima, nas montanhas, ainda há muito que fazer - diziam-lhes; mas aqui, na cidade turística, que dá o pão de cada dia a centenas de pessoas, tudo parece ter sido limpo por gigantes bons, que emprestaram a sua força ao espírito resistente de homens e mulheres comuns e empreendedores.
Almoçaram em Câmara de Lobos e partiram para Machico a retribuir ao padre Martins Júnior uma visita que fizera a Lisboa, quando um deles brincava entre a vida e a morte a combater um cancro ruim. Eu sou cristã, muitas vezes católica, os meus companheiros são agnósticos. Quando nos mostrou a igreja, tocou-nos a todos a simplicidade das flores, talvez criadas nos quintais dos paroquianos, e umas imagens pequenas, dispostas discretamente, no Altar-mor. Vindos da luz exterior, alguns de nós não percebemos à primeira do que se tratava. «É a Via Sacra. Este ano decidimos reflectir sobre o papel das mulheres durante a Paixão de Cristo; vejam Maria, mãe de Jesus, Verónica, Maria Madalena.». Aquelas que tiveram menos medo; ou o dominaram melhor. Subiram ao sótão, aproveitado para presbitério e sala multiusos, onde se ensina catequese e se aprende música. Retratos grandes de Ghandi, Madre Teresa de Calcutá, Zeca Afonso, Martin Luther King, padre António Vieira entre outros. Homens e mulheres que estarão juntos seja onde for esse espaço ou tempo, e que ali coabitam sob os braços largos de um crucifixo onde com eles está Jesus Cristo. Começaram a chegar os garotos. Eram adolescentes iguais aos que desertam nas outras paróquias que todos conhecemos. Quando regressaram, um dos do grupo, homem jovem, grande e agnóstico assumido, disse para a mulher: «Se alguma vez te quiseres casar pela igreja, tem de ser aqui». "

* Crónica da Dra. Catalina Pestana do dia 1 de Abril de 2011 no semanário "Sol".
** Na foto: Dra. Catalina Pestana, Sr. Padre Martins e Pedro Namora em frente à (tão bela, creiam..) igreja da Ribeira Seca , em Machico.

04/04/11

02/04/11

CANÇÃO DE GUERRA

Um poema surripiado ao "Cravo de Abril" agora mesmo, adequa-se ao travo que tenho na alma por estes dias: Aos fracos e aos covardes não lhes darei lugar dentro dos meus poema. Covarde já eu sou. Fraco, já o sou demais, e se entre fracos for me perderei também. Quero é gente animosa que olhe de frente a Vida, que faça medo à Morte. Com esses quero ir, a ver se me convenço de que também sou forte. Quero vencer os medos... Vencer-me - que sou poço de estúpidos terrores, de feminis fraquezas. Rir-me das sombras, rir-me das velhas ondas bravas, rir-me do meu temor do que há-de acontecer. Venham comigo os fortes... Façam-me ter vergonha das minhas cobardias. E de seus actos façam (seus actos destemidos) chicotes prós meus nervos. Ganhe o meu sangue a cor das tardes das batalhas. E eu vá - rasgue as cortinas que velam o Porvir. Vá - jovem e confiado, cumprindo o meu destino de não ficar parado. Sebastião da Gama