29/05/11

Privatizado




"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."


Bertold Brecht



As Muitas Maneiras de Matar


"Há muitas maneiras de matar. Podem enfiar-te uma faca na barriga, arrancar-te o pão, não te curar de uma enfermidade, meter-te numa casa sem condições, torturar-te até a morte por meio de um trabalho, levar-te para a guerra, etc. Somente poucas destas coisas estão proibidas na nossa cidade.»

Bertold Brecht

28/05/11

Parabéns sra. Gata!

Hoje a sra. Gata, a co-autora silenciosa deste blogue faz 16 anos!!!!!! Sim, é sabido que sou uma "dona" (embirro com este termo) vaidosa, e não podia deixar passar o dia sem partilhar este meu orgulho que é uma sra. Gata linda, meiga, companheira e tão amiga.:)))))

25/05/11

Apelo aos estudantes de Coimbra (a propósito das manobras provocatórias a pretexto da defesa do património da Universidade).



Um texto a ler a propósito da luta recentemente travada em pleno comício da CDU na escadaria em Coimbra, onde dezenas de manifestantes (estudantes) se insurgiram, curiosamente não contra os direitos que são ameaçados e retirados continuamente aos estudantes , mas contra o vandalismo(?) a que a escadaria teria sido sujeita, quando muitos devem saber que a propaganda e expressão ideológica por meio de murais não só é ancestral como constitucional:

"Que os estudantes de Coimbra - as duas dezenas de milhar de estudantes que não foram ontem à escadas monumentais protagonizar um triste espectáculo de arruaça e provocação política, e mesmo os que foram, pensando que estavam bem intencionados - reflictam sobre este acontecimento, sobre o que ele significa, sobre a História da Academia e sobre o papel da Associação Académica que é suposto representá-los.

É que é a primeira vez que o Presidente da AAC se envolve e objectivamente alimenta uma provocação político-partidária e interfere directa e publicamente numa campanha eleitoral, tudo em nome de uma suposta defesa de património da Universidade.

Como antigo estudante de Coimbra, ex-dirigente da AAC e activista em defesa da Universidade e do Ensino Superior Público, sinto profunda tristeza e vergonha por ver estas três letras e essa grande instituição - que tanto dizem a tanta gente e que tantas vidas marcaram - envolvidas numa tão baixa manobra partidária dirigida a partir dos gabinetes daqueles que ao longo dos anos têm dado machadadas atrás de machadadas no ensino superior público, têm condenado a Universidade de Coimbra ao constante aperto de cinto e têm tratado os estudantes de Coimbra como uns mariolas que só sabem gastar dinheiro aos pais e ir para as ruas fazer barulho.


Esses são os mesmos que não lutaram contra o fascismo, tendo alguns mesmo apoiado a ditadura. Esses são os mesmos que não sabem o que é receber a notícia que um companheiro de luta morreu ou foi preso porque decidiu lutar pela liberdade e também pela Universidade como espaço de criação e resistência. Esses são os mesmos que não sabem o que foram as reuniões e encontros clandestinos na baixinha de Coimbra para organizar e dar força ao movimento estudantil contra o fascismo. Esses são os que não conviveram bem com o movimento das repúblicas e que hoje, apesar dos discursos, as continuam a olhar com desconfiança. Esses são os mesmos que não estavam na sala 17 de Abril, que calaram ou fugiram quando os cavalos da GNR subiram à alta.

Esses são os mesmos que não foram às manifestações em defesa do ensino superior público, que não sabem o que foi organizar a primeira manifestação em Coimbra contra as propinas contra a opinião da DG/AAC da altura. Esses são os que nunca souberam o que é apanhar da polícia apenas por defender o direito às bolsas e às residências, que não sabem o que é dar horas e forças da nossa vida a dinamizar secções da AAC e a discutir como arranjar dinheiro para pagar bolsas atrasadas ou salários aos funcionários da AAC. Esses são os mesmos que não sabem o que é passar noites em claro a produzir comunicados e panfletos e depois, de manhã, ir para o cimo das Escadas monumentais fazer distribuições e falar com milhares de estudantes.

Esses são aqueles que não sabem o que é passar dias inteiros a ir falar às turmas explicando o que era, e que mal fazia, a lei de financiamento do PSD (primeiro) e do PS (anos depois). São os mesmos que nunca sentiram o coração a palpitar numa Assembleia Magna, que nunca sentiram o orgulho e a alegria de ver, na Estação de Santa Apolónia, sair de dois grandes comboios uma imensa mole humana de estudantes vestidos de negro – sim o mesmo traje que foi usado ontem – gritando “Académica!”.

Esses nunca saberão a emoção que ainda hoje se sente quando se pronuncia a frase “estudantes unidos jamais serão vencidos!”

Não venham falar de respeito pela Universidade!!! Respeito pela Universidade é lutar por ela, é dar parte da nossa vida a ela, é defender o seu património todo, o seu coração – as pessoas e os princípios - e a sua história de luta! Pintando as escadas monumentais sim senhor! como tantas vezes se fez, e fazendo tantas outras coisas e tão bonitas, como um concerto de música clássica no pátio da universidade para comemorar o aniversário da AAC ou como uma invasão pacifica da “Cabra” para dizer que estávamos em luta!

Respeito pela Universidade é conhecer a sua História, os seus corredores, os seus problemas, as suas dores, e também as suas alegrias, conquistas, belezas e potencialidades, e não apenas umas escadas que, despidas da história de resistência de que foram palco, são apenas pedras mandadas colocar por Salazar que, fique sabendo-se, destruíram outras que ali existiram antes – as Escadas do liceu.

Fiquem sabendo aqueles que consideram as escadas monumentais o “símbolo” da Universidade que a concentração de edifícios na alta universitária mandada erigir por Salazar foi-o com um objectivo: restringir a circulação dos estudantes àquele espaço. E fiquem sabendo esses mesmos que a construção desses “símbolos” implicou a destruição de parte considerável do centro histórico de Coimbra, nomeadamente edifícios como a antiga sede da AAC, o Governo Civil, a Biblioteca Geral, igrejas e parte da muralha medieval da cidade.

Não venham invocar o respeito pela Universidade! Respeito pela Universidade é não atacar e não provocar aqueles que a defendem, mesmo que esses não partilhem a nossa ideologia. Respeito pela Universidade é saber o que significa de facto o conceito da unidade. É saber (como os comunistas souberam e sabem) trabalhar lado a lado com gente muito diferente, defendendo o direito à educação, respeitando as tradições da Academia (mesmo não concordando muitas vezes com todas elas) e trabalhando para que a Universidade continue a ser um espaço de profunda democracia, de irreverência plena de conteúdo, de participação, de partilha de saberes e experiencias, de solidariedade, fraternidade, amizade e amor a causas.

Respeito pela Universidade não é dizer que aquelas escadas são da AAC ou da Universidade, como pobre e tristemente afirmou o estudante que hoje assume o cargo de Presidente da AAC. Como muitos sempre defenderam, e como tantas vezes a DG/AAC soube interpretar sabiamente, a Universidade é dos estudantes, da academia e da cidade, é de todos, e não de alguns! Ninguém é dono dela!

Aqueles que invocando UNESCO's e afins querem divorciar a Universidade de Coimbra da cidade saibam que estão a matar a Academia aos poucos! A Universidade e os seus edifícios não são museus, são pedras com vida e com história, são aquilo que em cada momento os estudantes e as gentes de Coimbra quiserem que ela seja! Aquelas escadas não são um monumento, são umas escadas! Mas umas escadas especiais, muito especiais, porque nelas e através delas, já se lutou muito pela democracia, pela liberdade, pela justiça e pela Universidade.

Sou Comunista. Os comunistas sempre estiveram ao lado dos estudantes de Coimbra, temos um património e uma acção presente da qual muito nos orgulhamos. Somos respeitados por isso e temos grandes amizades junto daqueles que connosco aprenderam, lutaram e trabalharam pela AAC e pela Academia, e com os quais aprendemos tanto também! Esses sabem que pintar as escadas monumentais é tudo menos um acto leviano, de desrespeito para com quem quer que seja.

É natural que alguns dos que estiveram ontem envolvidos na provocação à CDU não saibam a história toda daquelas escadas e da luta estudantil em Coimbra (antes e depois do 25 de Abril, antes e depois das lutas das propinas). Mas faço um apelo, que se informem e concluam que pintar as escadas monumentais com slogans que defendem os estudantes e o ensino superior público gratuito e de qualidade foi um profundo acto de respeito! Não para com as escadas, que são pedras, mas para com aquilo que de melhor já lá se passou, para com a Universidade, para com os estudantes, para com a Academia e para com a cidade de Coimbra. Foi um acto de propaganda legítima, mas também uma homenagem!

E foi também um grito de alerta para chamar a atenção que a política não passa apenas na televisão, como uma qualquer novela. Que a política é criatividade, é esforço pessoal, é generosidade e pode e deve ser feita por todos!

Aos estudantes e às gentes de Coimbra fica o apelo: reflictam… reflictam se vale a pena tentar calar aqueles que não se resignam à política espectáculo, à política “plástica” desprovida de ideias, ideais e sonhos.

Reflictam se é nos que insistem – como a CDU - num método de propaganda legal e legítimo, que está referenciado nos anais da História da Universidade de Coimbra e que inclusive faz parte do acervo que agora é candidato a património mundial, que está o perigo de destruição do património da Universidade, dos Estudantes, da AAC e da bonita cidade de Coimbra.


Ângelo Alves - 25.05.2011















22/05/11

"Um homem não pode ser mais homem do que os outros, porque a liberdade é igualmente infinita em todos."

Jean-Paul Sartre

14/05/11

A l"iberdade" do capitalismo

“Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operários para
morrer de fome.
Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela
pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública."

Vladimir Ilich Ulyanov (Lenin)

08/05/11

AO RETRATO DE CATARINA



Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lá...bios resolutos
...Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta

Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido

Tenra seara continhas
Visivel já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura

Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto

Carlos Aboim Inglez

01/05/11

Palavras para a Minha Mãe

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto

1º Maio - 1974



Imagens do nosso primeiro 1º de maio :)) Tal como em 1974, é necessária a mobilização urgente e a união triunfal de todos os trabalhadores em torno da consagração universal dos direitos de quem trabalha!