28/12/10

Operários do ano inteiro!

Sim, eu sei que o Natal já passou e que eu sou uma "contestária" da época (nos princípios que sobressaem, pelo menos, como o consumismo e quejandos). Mas, no fundo, até devo ser resiliente, pois enternecem-me canções como esta, de uma poesia e ternura acolhedoras... Estes operários, na verdade, não são só do Natal, mas do ano inteiro!

É para os Amigos, esta canção.

E por falar em ano, para todos vocês: um bom 2011!!

20/12/10

Katusha - The Red Army Choir

Mais descobertas (facultadas por uma amiga e camarada).
Vá, feliz Natal!
Estas músicas incitam-me a tanta fraternidade, esperança, futuro (sem que eu perceba uma só palavra)... que quase me esqueço que não gosto do Natal.

Le chant des partisans de l'Amour

Estou encantada, que linda!
Não sei nada de russo, o que lamento, mas no caso é quase dispensável para apreender a emoção grandiosa desta canção!
(obrigada Cat:)

Moscow Nights - The Red Army Choir

Músicas lindas, "fresquinhas" no meu reportório de eleição , apresentadas por uma (verdadeira) Catarina:

19/12/10

Feliz Natal

Gostar do Natal não gosto, mas não vou discorrer nos motivos e tornar este post um manifesto de revolta pelo consumismo, pelo capitalismo descarado, pela pobreza espiritual, pelos valores enviesados, pela hipocrisia com data marcada em cada ano, pela caridadezinha impiedosa e incapaz de erradicar as causas da pobreza e da desigualdade social, pelo vazio imenso que me assola nesta época...
Vou antes respeitar as crenças e as motivações de cada uma das pessoas que se entusiasmam (euforicamente até) com esta época e a todas deixar uma das poucas canções de Natal que gosto, cantada pelos Pogues e pela Kirsty MaccColl.


(Armando, há uns anos - tantos já! - apresentavas-me os Pogues, lembras-te?)

A todos quanto visitam este blogue : Um bom Natal!

Cesariny

Hoje fizeram-me recordar Cesariny, uma referência maior do surrealismo, uma paixão que (me) incita recorrentemente a ir ao encontro dos seus poemas.



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


uma espécie de porta)

Mário Cesariny de Vasconcelos

14/12/10

José Barata Moura - Vamos brincar à caridadezinha



Tão a propósito...
"Neste mundo de instituição cataloga-se até o coração"

12/12/10

Agustín Lara: Piensa en mí - Versión original



Porque me lembrei de um amigo Poeta, que me apresentou o Augustin há uns anos.
(embora posteriormente eu tenha ganho preferência pela interpretação da Chavela Vargas...)

11/12/10

Uma censura financeira à Liberdade de criação

Por Joaquim Benite:

Os cortes ao teatro, como já vimos, vão agravar mais ainda as condições gerais da economia. Além do desemprego que provocam têm, na presente situação de crise, um outro efeito perverso: vão repercutir-se directamente nos orçamentos familiares dos espectadores, já castigados com cortes salariais, aumento geral do custo de vida, redução das regalias sociais, congelamento de pensões, custos agravados na saúde e na educação, etc., num quadro em que o universo de pobreza se alarga diariamente e as condições de vida se deterioram de forma drástica. Os criadores não podem deixar de ser sensíveis a esta situação, que implicará certamente sobressaltos na sua actividade.

Mas, mesmo assim, estarão condenados à derrota todos os procedimentos e propostas que visem amarrar os criadores a uma técnica, qualquer que ela seja, ou a um sistema que condicione a sua acção, porque justamente o que distingue o artista é que tendo ele que adoptar uma estética e uma ética, essa estética e essa ética não podem deixar de ser, obrigatoriamente, uma estética e uma ética próprias.

Na natureza do teatro – ou, de um modo geral, da poesia – está a insubmissão. A arte teatral, como as outras, é um longo diálogo que preenche uma vida e necessita de muitas vidas em várias gerações para se desenvolver. As interrupções bruscas deste diálogo e as perturbações que os parâmetros que se pretende impor à liberdade criativa determinam, constituem a consequência mais desastrosa para o País e para as futuras gerações, pois afectam a independência da criação.

Não será, evidentemente, por causa dos cortes que as Companhias vão sofrer que o teatro português, no seu conjunto – dentro das largas e provadas tradições de solidariedade e de consciência cívica –, deixará de dar voz, como é sua obrigação, à dolorosa situação que, em todo o País, afecta os milhões de pessoas entre os quais se encontra o seu público. Os teatros de Arte, comprometidos com o pensamento e a reflexão e conscientes da sua função cívica, não deixarão de encontrar, naturalmente, como está a suceder em toda a Europa, um papel no protesto e no esclarecimento. A tentativa de reduzir a sua acção utilizando os instrumentos administrativos da censura financeira sairá lograda.

Aos cortes aos teatros espalhados pelo País juntam-se os cortes impostos pelo Orçamento do Estado aos orçamentos das Autarquias, que têm tido uma acção essencial em muitos projectos consolidados e em progressão, tornando mais difícil o seu papel determinante no desenvolvimento artístico e cultural.

O corte orçamental ao TMA é, também, uma cilada montada à cidade de Almada, à sua identidade e ao seu protagonismo. É um ataque a uma Autarquia que, pela sua actividade cultural exemplar, ganhou o respeito de todo o País e é hoje, com o seu Teatro, a sua Companhia e o seu Festival Internacional, uma referência mundial de qualidade artística, de vitalidade, e de modelar capacidade de organização. O prestígio de Almada contribui para o prestígio de Portugal no estrangeiro. O TMA vai continuar a fazer o que sempre fez desde há 32 anos: Vamos lutar, Vamos reagir!

10/12/10

José Larralde - Amigo



Outra canção de afecto e de luta.
Larralde, que devo a um amigo, é um grande poeta!

09/12/10

FESTIVAL TV 1976 NO TEU POEMA



Era menina, ainda sem saber ler, e sustinha-me a ouvir esta canção, dançando suavemente e, diz a minha mãe, a sorrir como se interiorizasse o poema...
Hoje, crescida, já não embalo o corpo quando a ouço, mas retenho-me sempre, comovida, com tanta expressão de afecto, de luta e de vida contidos num poema !

08/12/10

Tomar Partido - Ary dos Santos



Para mim, um manifesto contra a covardia!

29/11/10

Vou ali e já venho

Mas deixo-vos com a Sra. Gata que - creiam-me - é uma grande companhia!:))

28/11/10

Devem-me dinheiro!

Por Mário Crespo:

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil. António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

26/11/10

Uns vão bem e outros mal



E os que vivem bem, são uma minoria de "opressores à custa dos trabalhadores".
" E assim se tem feito Portugal"...

Curiosidades


Dizia hoje um amigo, pelo facebook, ilustrando a imagem acima:
"On my walk this morning in the Karoo I came across this small red velvety insect which was absolutely gorgeous. Does anyone know what it is called?".

Mesmo sem gostar de insectos, o que assumo vergonhosamente, pois de mim seria de esperar que estendesse o meu entusiasmo e protecção a todos os bichos do Universo, e embora com honrosas excepções para as borboletas, gafanhotos e abelhas que povoaram amistosamente a minha infância, muito consubstanciadas pelos desenhos animados da época, não pude deixar de me surpreender com a beleza deste insecto.
E como a curiosidade me incomodou e o interesse se interpôs, lembrei-me do amigo Mário do blogue Trepadeira que, porventura poderia saber de que insecto se tratava.:))

Adenda ( a solução do enigma veio por uma amiga do meu amigo):

"Dinothrombium tinctorium".

Adenda 2 (fui procurar os nomes na net e encontrei outra foto e mais informação aqui):

" These small "Red Velvet Mites" or "Dinothrombium tinctorium", always appear seemingly from nowhere just after a good rain shower in the Kalahari. It looks like little brilliant red spots on the sand and form part of the region's rain-outfit. They don't stay long and burrow into the soft wet soil before it harden again. They are harmless to man and feed on other mites and their eggs. Our children love to run around after rain, competing at who sees the most of these "rain bugs"! "

25/11/10

Saudades


Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca

23/11/10

ESTE BLOGUE ESTÁ EM GREVE !

20/11/10

Conversas de café e doutros lugares

O dia da greve está mais próximo e as opiniões repartem-se e acendem-se em discussões em torno da mesma. E isto é bom, mesmo quando as divergências se inconciliam. Mau, é quando se depara com a indiferença e a apatia de uma grande fatia da população, perante o estado de justiça social actual.
Por vezes respondem-me: " Eles é que mandam, que vamos fazer?!". Descrever a inquietação que estas palavras me provocam não é fácil, eu própria emudeço, atónita, indignada e estupefacta!, com a resignação simplista e inadmissível de algumas pessoas. Por vezes consigo retorquir: "Mas é o povo que os elege, é o povo quem manda, portanto!".
Outra frase que corre pelo rebuliço dos cafés, é " Fazer greve para quê?! Fica tudo na mesma". Afigura-se difícil insistir que é pela luta que vamos, que no passado homens e mulheres, por pensarem contrariamente, vingaram nas suas causas, que vieram a beneficiar gerações, a conferir direitos, outrora incalculáveis, à humanidade!

Ontem ia na rua e face à propaganda da CGTP, num carro que circulava, ripostava um empregado de uma loja, que estava à porta: "São vocês que me vão pagar o salário, não?!". Aí não me contive e atirei-lhe: " E você é justamente pago pelo seu patrão?!". Respondeu-me uma sua colega, que estava ao seu lado, encolhendo os ombros: " Ah, sabe como é... patrões...". Sei sim. E por saber é que não me conformo, não me acomodo. Por saber, é que me insurjo contra a exploração de milhares de trabalhadores, contra a subtracção de salários e direitos sociais conquistados por outras gerações, tantas vezes, à custa da sua própria vida!

Nenhuma conquista se fez num ímpeto, resulta sempre de um sonho que se transfigura em batalhas, persistência e convicções. Por vezes demora, entre avanços e recuos. A greve do próximo dia 24 é uma , entre tantas reivindicações possíveis que virão (terão de vir!) contra a política vigente que atira a cada dia milhares de pessoa para o desemprego e empedernidamente avulta a miséria e a fome entre famílias.

Que futuro queremos nós assegurar para as gerações vindouras, se não lutarmos pela reversão destes crimes ?!

O silêncio, a indiferença, como alguém já o proferiu, é tão criminoso quanto o crime em si. E, para mim, é a pior expressão da covardia.


E por tudo isto, VALE A PENA LUTAR, sim!

16/11/10

Louvor do Revolucionário


Entre tantos afazeres e trabalho, a determinação continua e a vontade de lutar mantém-se intacta.
Dia 24, que ninguém se sinta desencorajado ou intimidado a mostrar o seu descontamento pelas medidas anti-socias e ultrajantes deste governo!
Brecht sabia!


Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?

Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.

Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.

Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.

Bertold Brecht

12/11/10

Ainda não dissemos tudo


A serpente persegue a sombra da águia
até ao lugar onde é mais profunda a raiz da água.
Porque escondes o teu livro
quando folheias o coração?
Em que lugar amadurecem cachos de surpresa
durante a ausência dos teus dedos?
Esta manhã é soberba
de sonhos e de cães.
Espero por ti depois das horas da ternura
para mais ternura ainda.
Espero por ti depois do amor
para fazermos mais amor.
Façamos café, depois do fogo.
Temos, dos outros, as nossas mãos.
Herdámos a vida de mulheres e de homens antes de nós
e a outros homens e a outras mulheres não deixaremos
o vento como herança.
O que vês na água?
Com quê construíste a tua casa?
Em que manhã fizeste perguntas ao teu filho?
A serpente continua perseguindo
a sombra da águia.
De quem é o objecto que deténs na tua mão?
Porque cresce a tristeza nos teus ombros?
Esse rio que passa à tua porta e chama por ti
é um rio de sangue
com um caudal de corpos inocentes.
As suas margens são agrestes mas a tua infelicidade
não deixa que lhes descubras os punhais.
Há em ti o mesmo rio.
Não poderás dar um passo, longe ou perto,
sem que firas a tua carne
ou magoes mais os ossos já antes magoados.
Tu tens as tuas próprias margens.
Por favor, destrói as tuas margens.
Acende uma fogueira para que dentro dos teus olhos
possas sentar-te comigo em redor do fogo.
A lua calou-se. Está morta.
Morreram com ela metade dos poetas
e a nova poesia será escrita pelos que sobreviveram.
Verás passar pela tua noite
os mais humildes, os mais sacrificados, aqueles que,
conhecendo o medo, não aceitam as privações e a
miséria.
Não poderás voltar-te para o lado e adormecer.
Não deves voltar-te para o lado e tentar esquecer.
Há quanto tempo não escutas a tua fala?
Que espécie de claridade encomendaste para as tuas
janelas?
Hoje não é o último dia?
Corre agora a serpente
sobre a sombra da águia.
Para lá da tua bebida
morrem povos com sede.
Há milhares de crianças mortas
nos restos das tuas refeições.
Ajudas a assassinar rios, pássaros, e muitos dos teus
irmãos,
com um simples encolher de ombros.
Constroem-se toneladas de bombas na tua indiferença.
Envenenam-se oceanos para teu conforto.
Por toda a parte se polui o ar de vales e montanhas
para fabricar a tua asfixia.
De onde retirarás mais diamantes? Da boca dos
cadáveres?
Em que morte
deixarás apodrecer a tua vida?
A serpente desafia
a sombra da águia.
A nossa manhã continua soberba
de sonhos e de cães.
Façamos café, depois do fogo.
E conversemos. Ainda não
dissemos tudo.

Joaquim Pessoa
in Inéditos, 125 POEMAS
Litexa Editora, 3ª ed. 2002.


11/11/10

Obrigada, Joaquim Pessoa

Mais poesia de "amor-combate" de Joaquim Pessoa:

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa

(Do livro a publicar, ANO COMUM)

09/11/10

A ti -II

Necessito de mim mais do que de ninguém.
Mas mentiria se não te confessasse o quanto preciso de ti.
Tu és o meu vinho e a minha ressaca. A minha árvore
e a minha floresta.
O meu cavalo. A minha casa, o meu mar, o meu coral.
A minha teimosia e a minha lucidez.
O meu pássaro de chuva e o meu pássaro de fogo.
A minha distância, o meu abismo, a minha fuga.
A minha sombra e o meu túnel. O atalho para o outro lado de
mim.

Tu és a minha estrela e o meu guia.
A minha porta, o meu clarão, a minha injúria.
O meu grão, o meu vento, o meu moinho.
O meu sortilégio. O fim da festa e o meio-dia.
O meu carnaval, o meu brinquedo, o meu dia santo.
O meu pecado, a minha penitência.
O ouro, a ofensa, o desvario.
És o meu hábito e o meu monge. A minha estrela e o meu pão.
A minha irmã branca, a minha irmã negra, a minha irmã de
novas latitudes.
Tu és
(...), o meu combate, o meu sorriso.
Tu és o meu cálice. O meu elixir e o meu veneno. O vinho
que dá coragem às medusas.
Necessito de ti mais do que de ninguém. Mas
mentiria se não te confessasse o quanto
preciso de mim.

(Do livro a publicar, ANO COMUM)

Joaquim Pessoa

05/11/10

José Mário Branco - FMI

É comovente ( e arrepiante) esta interpretação do José Mário Branco, assente num texto e mensagem sempre presentes, sempre actuais....

Zeca Afonso - O Que Faz Falta!!!

03/11/10

Os tristes dias do nosso infortúnio

Por Baptista Bastos, no Jornal de negócios, no dia 29 de outubro de 2010:

Na terça-feira, 26 de Outubro, p.p., assistimos, estupefactos, a um espectáculo deprimente.
O dr. Cavaco consumiu vinte minutos, no Centro Cultural de Belém, a esclarecer os portugueses que não havia português como ele. Os portugueses, diminuídos com a presunção e esmagados pela soberba, escutaram a criatura de olhos arregalados. Elogio em boca própria é vitupério, mas o dr. Cavaco ignora essa verdade axiomática, como, aliás, ignora um número quase infindável de coisas.

O discurso, além de tolo, era um arrazoado de banalidades, redigido num idioma de eguariço. São conhecidas as amargas dificuldades que aquele senhor demonstra em expressar-se com exactidão. Mas, desta vez, o assunto atingiu as raias da nossa indignação. Segundo ele de si próprio diz, tem sido um estadista exemplar, repleto de êxitos políticos e de realizações ímpares. E acrescentou que, moralmente, é inatacável.

O passado dele não o recomenda. Infelizmente. Foi um dos piores primeiros-ministros, depois do 25 de Abril. Recebeu, de Bruxelas, oceanos de dinheiro e esbanjou-os nas futilidades de regime que, habitualmente, são para "encher o olho" e cuja utilidade é duvidosa. Preferiu o betão ao desenvolvimento harmonioso do nosso estrato educacional; desprezou a memória colectiva como projecto ideológico, nisso associando-se ao ideário da senhora Tatcher e do senhor Regan; incentivou, desbragadamente, o culto da juventude pela juventude, característica das doutrinas fascistas; crispou a sociedade portuguesa com uma cultura de espeque e atrabiliária e, não o esqueçamos nunca, recusou a pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, um dos mais abnegados heróis de Abril, atribuindo outras a agentes da PIDE, "por serviços relevantes à pátria." A lista de anomalias é medonha.

Como Presidente é um homem indeciso, cheio de fragilidades e de ressentimentos, com a ausência de grandeza exigida pela função. O caso, sinistro, das "escutas a Belém" é um dos episódios mais vis da história da II República. Sobre o caso escrevi, no Negócios, o que tinha de escrever. Mas não esqueço o manobrismo nem a desvergonha, minimizados por uma Imprensa minada por simpatizantes de jornalismos e por estipendiados inquietantes. Em qualquer país do mundo, seriamente democrático, o dr. Cavaco teria sido corrido a sete pés.

O lastro de opróbrio, de fiasco e de humilhação que tem deixado atrás de si, chega para acreditar que as forças que o sustentam, a manipulação a que os cidadãos têm sido sujeitos, é da ordem da mancha histórica. E os panegíricos que lhe tecem são ultrajantes para aqueles que o antecederam em Belém e ferem a nossa elementar decência.

É este homem de poucas qualidades que, no Centro Cultural de Belém, teve o descoco de se apresentar como símbolo de virtudes e sinónimo de impolutabilidade. É este homem, que as circunstâncias determinadas pelas torções da História alisaram um caminho sem pedras e empurraram para um destino que não merece - é este homem sem jeito de estar com as mãos, de sorriso hediondo e de embaraços múltiplos, que quer, pela segunda vez, ser Presidente da nossa República. Triste República, nas mãos de gente que a não ama, que a não desenvolve, que a não resguarda e a não protege!

Estamos a assistir ao fim de muitas esperanças, de muitos sonhos acalentados, e à traição imposta a gerações de homens e de mulheres. É gente deste jaez e estilo que corrói os alicerces intelectuais, políticos e morais de uma democracia que, cada vez mais, existe, apenas, na superfície. O estado a que chegámos é, substancialmente, da responsabilidade deste cavalheiro e de outros como ele.

Como é possível que, estando o País de pantanas, o homem que se apresenta como candidato ao mais alto emprego do Estado, não tenha, nem agora nem antes, actuado com o poder de que dispõe? Como é possível? Há outros problemas que se põem: foi o dr. Cavaco que escreveu o discurso? Se foi, a sua conhecida mediocridade pode ser atenuante. Se não foi, há alguém, em Belém, que o quer tramar.

Um amigo meu, fundador de PSD, antigo companheiro de Sá Carneiro e leitor omnívoro de literatura de todos os géneros e projecções, que me dizia: "Como é que você quer que isto se endireite se o dr. Cavaco e a maioria dos políticos no activo diz 'competividade' em vez de 'competitividade' e julga que o Padre António Vieira é um pároco de qualquer igreja?"

Pessoalmente, não quero nada. Mas desejava, ardentemente desejava, ter um Presidente da República que, pelo menos, soubesse quantos cantos tem "Os Lusíadas."

30/10/10

Para la libertad




Um poema encontrado aqui

Não resisti a trazê-lo até cá, ainda mais incentivada pela beleza do post bem complementado com um vídeo com dois vultos incontestáveis da (boa)música: Serrat e Sabina. Obrigada, Fernando Samuel!


Para la libertad sangro, lucho y pervivo.

Para la libertad, mis ojos y mis manos,

como un árbol carnal, generoso y cautivo,

doy a los cirujanos.



Para la libertad siento más corazones

que arenas en mi pecho. Dan espumas mis venas

y entro en los hospitales y entro en los algodones

como en las azucenas.



Porque donde unas cuencas vacías amanezcan,

ella pondrá dos piedras de futura mirada

y hará que nuevos brazos y nuevas piernas crezcan

en la carne talada.



Retoñarán aladas de savia sin otoño,

reliquias de mi cuerpo que pierdo en cada herida.

Porque soy como el árbol talado, que retoño

y aún tengo la vida.

Miguel Hernández
Adenda: O Obrigada mencionado no post é para o Samuel (sem Fernando). :))) Obrigada Fernando samuel- agora sim- por me chamares a atenção do lapso.:)) E desculpa, Samuel.:)))

25/10/10

O Voo de um (grande) POETA

Voa esta canção sobre os caudalosos rios da manhã
e as montanhas da tarde. Voa como os majestosos pássaros
imperiais,
mas também como os pequenos beija-flor. Voa, voa, voa,
para chegar às tuas mãos como uma carta de amor
do tempo em que se escreviam cartas de amor.
Voa esta canção para o azul profundo e para o sol
porque as palavras continuam a adorar o sol como Akhenaton
e os imperadores incas.
É uma canção viva esta que os teus dedos podem festejar
na fronteira das horas em que a felicidade está onde menos
a esperamos
e a aventura começa quando temos de viver várias vezes a
nossa única vida
desempenhando o nosso papel e o dos outros, nós, nós outros,
nós nos outros,
quando as horas do destino falham depois de chamarmos e
avisarmos os anjos
de que não permitimos mais interferências no nosso livre
arbítrio.

Voa esta canção para o teu nome, para o nome do amor,
onde o coração preside a um reino de desejo que explode em
forças poderosas
e novas teorias que nunca fizeram parte de qualquer currículo
romântico.
E é possível que voe esta canção para os magros recantos onde
nada se prevê,
onde não existem planos, expectativas, profecias. Onde
a dança animal é como a dança das galáxias e nela coabitam
o falcão e a lebre, o lodo e as estrelas,
acatando os acasos da vida sem se deixarem enganar.

Onde a carta chegar, voa também a canção para a alegria da
árvore
e para o vento frio, nu e infeliz, que se queixa às ramagens,
para os braços dos camponeses cuja beleza floresce na terra,
e para a macieira que estende os braços para a luz,
para os teus grandes olhos luminosos onde a minha vida roda,
sufocante,
enamorada e inocente. Voa pela memória
a canção do sangue, a canção da água e da erva adolescente,
que veste a roupa e a carne dos noivos, dos velhos e daqueles
cuja bondade e perfeição
fazem parte das contas a ajustar num tempo de humilhação
acumulada
por todos os séculos e séculos de incompreensíveis e
fantásticas prostituições.

E voa pelas margens do teu corpo, esta canção, esta carta
onde escrevi para ti as mais belas palavras de amor,
quem sabe?, as mais sofridas e intensas palavras de desejo,
as menos pensadas, as menos justas, as que apenas foram
escritas com o corpo,
as que perante a conquista apenas se entregaram à recolha dos
despojos
quando era preciso parar para escutar uma palavra diferente,
a que irrompeu vitoriosa dessa luta corpo a corpo. E segue
esta canção para todos aqueles que me esperam, aqueles que
me amam
como eu amei um dia cada um dos minutos da infância,
esses minutos que tinham pai e tinham mãe e uma alegria
deslumbrada
e que eu deixei de reconhecer nos pássaros, no vento, na
conversa da água.

Voa então, também, esta canção para mim, carregado de feridas,
eu que já pouco tenho a dizer sobre a pulhice, a indignidade e o
desvario
daqueles que conduzem sem destino o destino de todos,
eu que para trás pouco deixo, a não ser filhos e um rasto de
palavras
irmãs desses irmãos que em cada oportunidade, em cada
fogueira, se aquecem e se esquecem,
à procura de um sentido e de um caminho que acaba por
levá-los ao ponto de partida,
protagonistas das maiores injustiças e das mais fundas cobardias
registadas na História do Homem pelos homens
que não têm história.

Joaquim Pessoa

in O POUCO É PARA ONTEM
(Litexa Editora, 2008)

20/10/10

Poema e luta


Um poema de Brecht , com o qual me cruzei, ao acaso na net, e que se enquadra no conjunto de lutas que nos esperam. Uma mensagem de encorajamento para os que lutam e, talvez, de incitamento para os indiferentes e analfabetos políticos como, também, Brecht qualificou (e bem). A imagem também me remete a um outro poema do mesmo autor, o que indaga os apáticos da seguinte forma: "um dia levaram os negros, os judeus, etc e eu não liguei, não era nada comigo. Outro dia foi a mim que levaram...".
Que não nos cansemos, sobretudo de lutar!, e mais ainda pelo futuro, o nosso e o das gerações que nos sucedem. Dia 24, todos à greve!


Ouvimos dizer: Não queres continuar a trabalhar connosco.
Estás arrasado. Já não podes andar de cá para lá.
Estás muito cansado. Já não és capaz de aprender.
Estás liquidado.
Não se pode exigir de ti que faças mais.

Pois fica sabendo:
Nós exigimo-lo.

Se estiveres cansado e adormeceres
Ninguém te acordará nem dirá:
Levanta-te, está aqui a comida.
Por que é que a comida havia de estar ali?
Se não podes andar de cá para lá
Ficarás estendido. Ninguém
Te irá buscar e dizer:
Houve uma revolução. As fábricas
Esperam por ti.
Porque é que havia de haver uma revolução?
Quando estiveres morto virão enterrar-te
Quer tu sejas ou não culpado da tua morte.

Tu dizes:
Que já lutaste muito tempo. Que já não podes lutar mais.
Pois ouve:
Quer tu tenhas culpa ou não:
Se já não podes lutar mais, serás destruído.

Dizes tu: Que esperaste muito tempo. Que já não podes ter esperanças.
Que esperavas tu?
Que a luta fosse fácil?

Não é esse o caso:
A nossa situação é pior do que tu julgavas.

Se não levarmos a cabo o sobre-humano
Estamos perdidos.
Se não pudermos fazer o que ninguém de nós pode exigir
Afundar-nos-emos.
Os nossos inimigos só esperam
Que nós nos cansemos.

Quando a luta é mais encarniçada
É que os lutadores estão mais cansados.
Os lutadores que estão cansados de mais perdem a batalha.

18/10/10

Este texto, do "Cravo de Abril", enuncia, claramente, porque é que "Vale a pena Lutar" (texto integral: aqui), porque é que os anlfabetos políticos denunciados por Brecht têm de inverter a sua posição e porque é que os indiferentes, também apontados por Brecht, têm de despertar para os princípios consagrados do humanismo:
"...a luta dos trabalhadores, mesmo quando, de imediato, se traduz numa derrota, nunca é inútil e vale sempre a pena.
Sempre.

Hoje, mais de setenta anos passados - e num momento em que os trabalhadores portugueses preparam intensa e activamente uma Greve Geral de resposta à política de direita ao serviço do grande capital, é particularmente importante reter esse ensinamento - tanto mais quanto, como sabemos, os ideólogos do capitalismo levam por diante uma poderosa ofensiva ideológica que tem entre as suas linhas fundamentais a pregação da inutilidade da luta.
Sempre como velho objectivo de enfraquecer, e se possível liquidar, a luta das massas trabalhadoras.

E não é por acaso que os seguidores dessa ideia proliferam nos média dominantes - e em blogues e caixas de comentários... - nuns casos mostrando o que são, noutros casos ostentando garridas vestes de «esquerda» e, nessa qualidade, colocando a fasquia dos objectivos da luta em níveis claramente inatingíveis no momento e, simultaneamente, decretando que a luta só conta e só vale a pena se for vitoriosa..., fingindo que não sabem que se os trabalhadores só avançassem para uma luta quando tivessem a certeza prévia de que iriam vencer de imediato, nunca lutariam... para tranquilidade do capitalismo explorador.

Essa ideia da inutilidade da luta constitui, assim, uma das linhas mais perigosas da ofensiva ideológica em curso e visa empurrar os trabalhadores para o conformismo, para o «não vale a pena», para a aceitação da exploração capitalista como uma «inevitabilidade»...

De facto, o que o grande capital aplaude, nos trabalhadores, é ou a passividade e o amorfismo, por vezes através do medo: ou a impaciência geradora de desesperos, de capitulações e aventuras que fragilizem a unidade dos trabalhadores ou conduzem a luta para becos sem saída - enfim, todas aquelas situações que vicejam onde houver uma frágil consciência política, ideológica e de classe.

E o que o grande capital teme, nos trabalhadores, é a determinação, a confiança, a convicção, a perseverança, a perspectiva revolucionária - enfim, todas aquelas armas que são consequência de uma firme consciência política, ideológica e de classe.

E a verdade é que - como a vida nos mostra desde, pelo menos, a Revolta de Spártacus... - quem luta, nem sempre ganha, mas quem não luta, perde sempre."

17/10/10

A ti:


Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota
de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas
vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio,
outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério,
recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual
consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam
o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas.
Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade
que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se
alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do
sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas,
ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo
quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo
repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até
o que é indivisível.
Tu sabes onde estou. Sabes como me chamo. Estarei presente
quando já mais ninguém estiver contigo
, quando chegar a hora
decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga
coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas
flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que
interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as
respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais
sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.

Joaquim Pessoa

05/10/10

04/10/10

Apelo para adopção de 4 cachorrinhos

Aqui, uma história de ternura e amizade do camarada Fernando Rocha.
Se contribuir para a adopção de quatro cachorrinhos, que imagino lindíssimos,
o meu propósito cumpriu-se com esta nota.:))

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO ANIMAL


Proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas em 27 de Janeiro de 1978
Preâmbulo
Considerando que todo o animal possui direitos, Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza, Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo, Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros, Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante, Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais,
PROCLAMA-SE O SEGUINTE:
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
Artigo 2º
1 - Todo o animal tem o direito a ser respeitado.2 - O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.3 - Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à protecção do homem.
Artigo 3º
1 - Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a actos cruéis.2 - Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.
Artigo 4º
Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.1 - Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito.
Artigo 5º
Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.1 - Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.
Artigo 6º
Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.1 - O abandono de um animal é um acto cruel e degradante.
Artigo 7º
Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.
Artigo 8º
A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.1 - As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.
Artigo 9º
Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.
Artigo 10º
Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.1 - As exibições de animais e os espectáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º
Todo o acto que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida.
Artigo 12º
Todo o acto que implique a morte de um grande número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.1 - A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.
Artigo 13º
O animal morto deve de ser tratado com respeito.1 - As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal.
Artigo 14º
Os organismos de protecção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental.1 - Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

03/10/10

Dia do animal














Isto de existirem dias para tudo, por vezes causa-me alguma celeuma, confesso... mas depois penso nas minorias, em seres incapazes de se defender, em causas que urge não silenciar, e a existência de um dia capaz de assinalar e relembrar as lutas pelas quais somos (todos!)responsáveis, e não me parece assim tão descabido ou inútil... sobretudo quando fazem eco nas massas ou quando, ano após ano, o esforço de sensibilização se reverte em melhorias progressivas.
Hoje, são muitas as iniciativas com o intuito de enternecer a população para a adopção de animais, mas sobretudo alertá-los para a crueldade do abandono e maus-tratos. Hoje em especial, porque estas campanhas têm, felizmente, carácter permanente e regular ao longo do ano. São muitos os humanos que contrapõem outros semelhantes, nesta luta de defesa pela dignidade dos animais e que, por vezes sem meios ou apoios institucionais, evitam que imagens como as expostas propaguem a realidade denunciada.
Falta ainda muito por conseguir, sobretudo ao nível legal, e neste domínio é necessário, por exemplo, que se agravem as penas sobre quem causar danos, seja de que natureza for, aos animais. Nestes incluem-se a exploração de animais de circo (certa vez fiz uma necrópsia a uma leoa de 24 anos, com evidência de sobrecarga de trabalho, tal era o estado de emaciação do animal, infestação maciça de parasitas , etc), as touradas (não se alegue falaciosamente a tradição, que eu não quereria ver nem os defensores das touradas a serem sacrificados em arenas com leões famintos, como outrora...), ou a crueldade física deliberada: conseguem imaginar um animal a chegar-vos ao consultório queimado em mais de 50% do corpo, depois de o regarem com gasolina?; ou um animal deixado à fome e à sede durante dias, porque os donos foram de férias e o negligenciaram?; ou outro atirado para a estrada via janela de um carro em andamento?...

São inúmeras as histórias de horror que poderia relatar, mas vou conter-me porque para hoje reservo a mensagem futurista de Da Vinci:

"Chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais e nesse dia, um crime cometido contra um animal será considerado um crime contra a humanidade"



E esta imagem (linda!) será, de facto, realidade:




Agiotas

Para relembrar a agiotagem capitalista que urge combater e... derrotar!

02/10/10

O milagre do teatro - Nova estreia

Outra estreia do Grupo de Teatro do Centro da Mãe, outro "milagre" operado pela magnificência do TEATRO. Já terei falado deste meu trabalho aqui, e quando o refiro é com orgulho enorme e, confesso, até vaidade.
Estas meninas são apoiadas pelo "Centro da Mãe" e, em alguns casos mais "complicados", pela "Ajuda de Mãe". São mães muito jovens, com histórias inimagináveis por muitos de nós e, pelas inúmeras carências que têm, são auxiliadas por este Centro, não só em géneros necessários para os seus filhos, mas também em aulas e formações que lhes ocupam o tempo e as instruem em vertentes úteis para o futuro. Algumas dessas actividades são lúdicas, e nestas insere-se o Teatro.
Este foi o nosso quarto trabalho em quase dois anos. À partida pode aparentar ser pouco, mas é imenso quando as limitações e obstáculos para essa concretização são colossais, pois estas meninas carregam já a responsabilidade imensa de serem mães a tempo inteiro.
O trabalho de hoje, num texto que adaptei, sobre a história duma árvore que dava dinheiro rematava com a seguinte mensagem: " Não plantes a ganância, planta árvores e flores", pois, e era a Cátia, a benjamim do grupo, que o afirmava : " A única forma de ganhar dinheiro é trabalhando!".
A mensagem para estas jovens mães assume uma importância incalculável, até porque, no Centro, o que se pretende é que cada uma delas empreenda o seu próprio projecto de vida. A taxa de sucesso não será animadora, mas nestas situações particulares e tão difíceis, uma pequena vitória é um milagre. E eles, os "milagres" têm acontecido, e para mim agigantam-se de tal forma, que alimentam a minha vontade (inabalável) de continuar ao lado delas!

Hoje, apresentaram o trabalho, para o público em geral, num encontro de Teatro amador, e , mesmo sendo eu suspeita e uma orgulhosa incondicional destas meninas, foi um grande trabalho!
A todas elas , mais uma vez, o meu obrigada.
Por tudo!
Adenda:
A pedido, o nome das meninas da foto: A Thaiz, mãe da Emily e da Maria Clara; A Cátia, mãe da Ana; A Joana, mãe da Maria.
Além destas meninas , o centro apoia muitas outras, que, embora frequentem as aulas de teatro, não puderam ir a esta estreia. São a Cris, a Patrícia, a Fátima, a Sónia, a Joana, a Danielle, a Alexandra, a Claúdia e outras, que por vezes procuram o Centro. Bem-hajam, todas!

30/09/10

A dor das crianças não mente: Reedição

Prefácio à edição revista
Oito longos anos mediaram entre a denúncia de abusos sexuais na Casa Pia de Lisboa e a condenação em julgamento de seis arguidos. Durante esse período, as vítimas, crianças indefesas e, na generalidade, sem família - e todos quantos ousaram posicionar-se a seu lado - foram perseguidas de forma sistemática e cruel. As pessoas que durante esse período me abordaram, sempre com palavras de amparo, reiteravam, incrédulas na Justiça, o aviso: “Isto não dá em nada e no final, você e os miúdos é que vão acabar presos”.

No dia aprazado para a leitura do acórdão, ao entrar na sala de audiências, não pude deixar de pensar nessas advertências. E se tanto sofrimento, o das vítimas e o das pessoas que nunca as abandonaram, tivesse sido em vão? Sentada a meu lado, Catalina Pestana, a mãe afectuosa de tantos casapianos órfãos de tudo, persistia serena, confiante.

Depois, os rapazes entraram. E com a coragem e resistência dos que falam verdade, ocuparam os seus lugares de assistentes no processo. Quanta dignidade: não obstante saberem que na mesma sala estariam os arguidos que acusam de maus-tratos pavorosos, persistiram tranquilamente no anseio de justiça! E não soçobraram quando, revelando o horror, o colectivo de juízes deu início à descrição dos factos por que vinham pronunciados os arguidos.

Gradualmente, fui percebendo o sentido do acórdão. Afinal, ameaças, agressões, campanhas desenvolvidas por gente sem escrúpulos, forças colossais colocadas ao serviço da descredibilização das vítimas e da investigação, tinham resultado infrutíferas ante o juízo exigente e honrado de três magistrados. Em consequência, os arguidos foram condenados a penas de prisão efectiva cuja soma ascende a 50 anos e sete meses: Carlos Silvino, 18 anos, Carlos Cruz e Ferreira Diniz, 7 anos cada, Jorge Ritto, 6 anos e 8 meses, Hugo Marçal 6 anos e 2 meses, Manuel Abrantes 5 anos e 9 meses.

Se em Portugal se soubesse que os abusadores sexuais, predadores incansáveis, pensam a cada instante em como vitimar crianças, os condenados deveriam ter recolhido imediatamente à prisão. Infelizmente, aproveitando o laxismo e o excesso de garantias que as nossas leis lhes oferecem, retomaram, em coro síncrono, os mesmos argumentos falaciosos que ao longo de todo o processo tinham arremessado contra as vítimas.

Valeu tudo, até afirmações irresponsáveis de que Portugal estava ainda pior do que no tempo dos tribunais plenários. Ora, a verdade é bem diferente: os arguidos foram indiciados, acusados, pronunciados e condenados por magistrados diferentes. Ao longo do processo puderam exercer todas as garantias de defesa que a constituição e a lei lhes atribuem.

O espectáculo aviltante que condenados por crimes gravíssimos contra crianças proporcionaram ao país, com a anuência cúmplice de parte considerável da nossa imprensa e das já conhecidas consciências de aluguer, ficará para sempre como elucidativa demonstração de que são capazes de tudo. E exige, aos que se opõem à barbárie, o dever de perseverarem na defesa dos ofendidos. É com essa intenção que agora se reedita este livro, correspondendo a um convite de Zita Seabra, cuja activa e constante solidariedade para com as vítimas quero realçar.


José Pedro Namora

Reacções a anúncio de medidas de austeridade

Eu não sou de proferir palavrões, mesmo quando estou irada (peso da educação, penso eu, ou timidez) mas ao ler isto, ocorreram-me todos os possíveis, que possam imaginar !!!!!

Almeida Santos diz que sacrifícios pedidos “não são incomportáveis”
29.09.2010 - 21:10 Por Maria Lopes


"O presidente do PS considerou hoje que o esforço pedido hoje pelo Executivo com novas medidas de austeridade “não são sacrifícios incomportáveis” e que “o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”.
Questionado pelos jornalistas à entrada da sede do PS, onde vão decorrer esta noite reuniões do Secretariado Nacional e da Comissão Política, convocadas por José Sócrates, Almeida Santos recusou comentar o tempo que o Governo demorou a tomar tais decisões, dizendo que o Executivo “tentou tomar em conta a possibilidade de não serem necessárias”.O histórico socialista lembrou que “esta crise só tem paralelo nos anos 20 do século passado” e reconheceu que “são medidas impopularíssimas”, mas que deverão chegar para “afastar o FMI”. “Não é qualquer Governo que toma medidas como estas e está disponível para sofrer as consequências”, vincou, afirmando porém que “o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”.“Eu não gosto do FMI, devo dizê-lo. Mas o FMI já nos salvou duas vezes no passado, não é assim um problema de uma gravidade excepcional [o FMI intervir]”, realçou o presidente do PS, acrescentando: “Se precisarmos que o FMI nos salve, talvez essa seja de facto a nossa salvação. Mas não sejamos tão pessimistas!”Para Almeida Santos “é evidente que a bola agora está no lado da oposição”, e avisou que “não se pede ao PSD que seja co-responsável. Pede-se que por razões patrióticas aprove o orçamento”. Afirmando que “a despesa não tem grande margem de manobra”, deixou um repto: “Dizem que se corte na despesa, mas não dizem onde. Se isto não chega, digam onde.”

Porque não me ocorre música MAIS ACTUAL que esta:

26/09/10

SONETO DA CARTA



Amor, que a vida em morte em mim convertes,
espero em vão tua palavra escrita
e, flor a se murchar, meu ser medita
que se vivo sem mim quero perder-te.

É infinito o ar. A pedra inerte
nada sabe da sombra e não a evita.
Íntimo, o coração não necessita
do congelado mel que a lua verte.

Por ti rasguei as veias às dezenas,
tigre e pomba, cobrindo-te a cintura
com luta de mordiscos e açucenas.

Tuas palavras encham-me a loucura
ou deixa-me viver minha serena
e infinda noite da alma, escura, escura.


Frederico Garcia Lorca , um poeta que foi assassinado porque era considerado "mais perigoso com a sua caneta do que outros com revólver."

24/09/10

La Féria não paga há meses a actores

Eis uma situação que envergonha o TEATRO em Portugal, e que devia ser um verdadeiro embaraço para os seus responsáveis. Ao invés, as compras de infraestruturas continuam, os dinheiros públicos continuam a surgir como por encanto, no meio da crise, mas os salários de quem trabalha estão "sacrificados" há meses. Com este indivíduo, sabe-se, porém, que os direitos elementares dos trabalhadores e bons-tratos humanos nunca constituiram sequer alguma preocupação ou cuidado... :

Por Marta Neves in JN , 24 de Setembro :

O PCP denunciou, ontem, quinta-feira, que a empresa "Todos ao Palco", que gere o Rivoli, "tem vários meses de honorários de actores e técnicos em atraso". O vereador Rui Sá já questionou, por carta, o presidente da Câmara do Porto sobre o pagamento pela ocupação da sala.

"O que se passa com a empresa a quem a coligação PSD/CDS entregou o Rivoli Teatro Municipal?" - este é o título de um requerimento, enviado, pelo Partido Comunista, ao presidente da Câmara do Porto e ao Ministério do Trabalho.

No documento, pedem-se informações sobre o cumprimento dos pagamentos ao Município pela ocupação do Rivoli Teatro Municipal pela empresa "Todos ao Palco", dirigida pelo encenador Filipe La Féria.

De acordo com informações a que o PCP teve acesso, a empresa "tem vários meses de honorários em atraso aos actores e técnicos que têm vindo a assegurar as peças apresentadas", uma equipa de cerca de 50 pessoas "em regime de recibos verdes".

"Para além desta inadmissível situação de honorários em atraso, ainda por cima numa empresa altamente financiada pelo Município do Porto, também se constata que desde Julho não são apresentados espectáculos na sala grande do Rivoli", aponta o Partido Comunista.

Por isso mesmo, o PCP admite que "a empresa 'Todos ao Palco' não esteja também a pagar à Câmara do Porto as verbas correspondentes a cerca de 5% da receita de bilheteira a que estava obrigada".

No comunicado enviado às redacções, o Partido Comunista dá a conhecer a possibilidade de "estrear uma nova peça no Rivoli apenas em Dezembro - ou seja pelo menos serão quatro os meses sem espectáculos na sala grande do Rivoli Teatro Municipal -, o que contraria o espírito do contrato de comodato estabelecido com o Município".

Para Rui Sá, vereador na Câmara do Porto, e para Jorge Machado e Honório Novo, deputados na Assembleia da República, esta situação representa, "mais uma vez, a política de dois pesos e duas medidas", sublinhando que "os moradores dos bairros sociais que se atrasam no pagamento das rendas são logo despejados".

O JN tentou, sem êxito, obter esclarecimentos da empresa "Todos ao Palco" e da Câmara do Porto.

21/09/10

Este Inferno de Amar

*
Este Inferno de Amar
Este inferno de amar - como eu amo!-
Quem mo pôs n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eu não sei, não me lembro: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serana a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembro que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez? eu que fiz? - Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garret *

16/09/10

Outra amizade improvável


Neste vídeo, outra amizade improvável, entre um suposto (e natural) predador e um pombo cego!

Amizade improvável


Este vídeo ilustra uma amizade improvável entre um Pitt Bull e um gato. Assiste-se a momentos de ternura entre os dois, e à bonomia paciente do cão.
A este propósito, o da perigosidade de determinadas raças de cães, é de referir que são fundamentadas em apuramentos e legados genéticos inerentes às mesmas, e este factor determinante não pode ser descurado, é verdade.
Porém, o comportamento (e o temperamento) são também determinados por outros componentes equacionais, como o é a influência ambiental ou do meio circundante. Isto traduz-se (e muito!), por exemplo, pelo factor EDUCAÇÃO ( e eu acrescento, aliado a muito , muito AFECTO nosso). Afinal é o Homem que os incita a comportamentos agressivos, quando por exemplo os instrui em lutas entre pares, ou mesmo os treina para predar e matar.

Posto isto, é mais que possível convivermos harmoniosa e pacificamente com estas raças, e estes animais, não raras vezes, são dotados de uma docilidade extrema para connosco e até para "inimigos e rivais naturais".

FACE A FACE


Entendamo nos:
falar de ti e dos teus olhos de garça enevoados
seria talvez tão vulgar como enumerar as coisas simples e nisso
não há qualquer desafio
Existe apenas uma razão íntima como a de quem
não gosta de se repetir ou de estar de costas voltadas para o mar
amando o imprevisto como um sinal de alarme

Também falar de mim poderia tornar se perigoso
se me virasse para dentro habitando a minha memória e não
a memória de todos os meus dias habitando a minha memória e não
A memória de todos os meus dias: Fariseu único
de um Templo de Escadas Rolantes
quando vejo mudar a água em sangue
e arregaçar as mangas para transformar uma seara em pão
não deixando ao diabo esse trabalho de
mostrar que a realidade não é o que é
mas sempre o outro lado da indiferença

E bato as esquinas levando a pederneira
com que se acendem os poemas que alimentam as primeiras esperanças
atravessando nas passagens de peões com a precaução da caça perseguida
e a preocupação de me dar
desinventando mágoas repartindo alegrias
como quem escreve um tratado de amizade
num país de vidro onde a dor está mais escondida
que os ovos da codorniz no coraçção da erva

Joaquim Pessoa*

13/09/10

Eu sei, não te conheço mas existes


Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

(...)

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
ao é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre á tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.

Joaquim Pessoa

Saudade


O teu aniversário era sempre uma grande festa. Toda a família rumava a tua casa, onde , invariavelmente, te esperava uma prenda grandiosa, que aquela que te amou congeminava meses a fio e que, não raras vezes, se endividava para ta ofertar. Lembro-me, tão menina ainda, de passar uma tarde deste dia hipnotizada por um televisor a cores, único nos quarteirões circundantes, que nesse dia coroara o teu aniversário. A tua vaidade, porém , era discreta, mas o teu contentamento não. Esboçavas tenuemente um sorriso franco, encoberto pelo bigode, mas os teus olhos acusavam-te sempre. Eras grato. Como a avó. E tão bonito!
Sem to ter dito,eu gostava tanto de ti! Não falávamos muito quando nos juntávamos, mesmo quando me sentava ao teu lado, na mesa, e a teu pedido. Mas é certo, que ao fim daquele tempo, tinha partilhado mais contigo do que um qualquer discurso o faria. Tinhas-me afecto, sabia-o. Sobretudo sentia-o ao pé de ti.
E só quando partiste, abruptamente, percebi porque é que eu gostava tanto de ti: "Quando eras bébé, o tio, assim que chegava a casa,perguntava por ti e ia ver-te, embevecido. À noite, se choravas, levantava-se para te ir buscar."
Não tenho memória do teu colo, mas a ternura com que me olhavas embalou-me em tantos momentos partilhados. E gravou-se-me tão fundo, que a tua ausência se fez notar muito mais.
Não descuravas o meu aniversário, era bonita a tua lembrança: " O tio lembrava-se sempre de ti!". E era bom ouvir-te, o teu sorriso dócil sentia-se, mesmo quando falávamos de longe.
Naquela manhã, acordei incomodada e quando desliguei o telefone ao teu filho (tão igual a ti, ele, nem imaginas!) senti-me incapaz de prosseguir o meu dia... Ainda hoje não sei porquê, mas pressenti-te a partida, e as lágrimas, em desespero, impediam-me a nitidez da voz para dizer à tua irmã que estavas muito doente. Foi o dia mais amargo da minha vida... O dia em que corri, absurdamente, pelos corredores de um hospital para chegar a ti, a tempo de te dizer adeus.

Carrego além da saudade imensa que tenho de ti, a dor daquela que tanto te amou... Passaram cinco anos e quando a abraço, é como se te estreitasse também a ti. As suas lágrimas inconformadas ainda gritam por ti. " A cada dia tenho mais saudades do teu tio...- diz-me" e eu, impotente, pesada de tanto pesar, sou incapaz de me pronunciar face à grandeza deste amor.

Parabéns tio!, estejas onde estiveres..

SAUDADE!

:(

06/09/10

Um ano!


Começou ao acaso, sem planificações ou objectivos, que não fossem lúdicos ou expositivos de poemas que ia lendo e relembrando... Mas por não ter sido incumbido de nenhum fim, foi-se expressando de tantas formas, assumindo o corpo meramente transcritivo do que vou vivenciando e sentindo.
Redobrado este ano, ainda não se assume com algum fim ou propósito. E assim continuará, espero, que por muito mais tempo ainda.
Os blogues são um universo fascinante, embora também possam ser pervertidos na sua utilização. No meu caso e tendo-me servido dele em várias direcções, pessoais, públicas, impessoais, afectivas, contestárias, informativas e reivindicativas, volvido este ano o saldo deste exercício é gratificante... sobretudo pelo inesperado: o facto de ter encontrado amigos por este meio que, inclusive, cheguei a conhecer pessoalmente, quando se propôs um almoço de um dos blogues que eu visito assiduamente. Outros, mesmo que ainda virtuais, são já parcelas que não dispenso nesta casa onde a Amizade é o mote de boas-vindas!
Acreditem, que me sabe tão bem este momento quase diário em que suspendo tudo para vir a este encontro!
Beijo amigo a todos, obrigada!

A FESTA


De volta a casa e ao trabalho, o rescaldo da festa ainda se faz sentir e notar, inclusive, pelo meu desalento,não reposto, devido ao regresso...
O tempo impõe-me a brevidade deste registo e o trabalho que me aguarda clama à minha consciência o devido, mas a minha teimosia afirma-se só pela vontade de o repetir convictamente:
NÃO HÁ FESTA COMO ESTA!!
E que não se pense que esta é uma frase retirada do colectivo, qual eco propagandístico, como já me acusaram. Não! E para isso, desafio quem o contesta a lá ir em anos vindouros.
Para quem nunca lá foi e recusa sequer a hipótese de um dia lá pisar , que imagine o seguinte:
Uma entrada de afã saudável, sem atropelos e com rostos iluminados por convicções, saudada por um grupo musical de jovens de batuques em riste, encorpando desde cedo as emoções que ainda virão. De relance abarca-se todo o espaço, sem o detalhar, e é enorme e grandioso, bem ordenado, onde as pessoas circulam ordeiramente, sem que isso lhes seja imposto.
São tantos os pavilhões temáticos e locais e as ofertas tão variadas, que o difícil é saber por onde começar... No meu caso, e atendendo à minha própria realidade, limitada pelos dois dias em que podia lá ir, e expectativas, delimitei o que faria e onde iria, sem que o plano , porém se cumprisse na íntegra, pois o improviso interveio - e ainda bem!
Circulando pela cidade internacional, uma das metas que traço sempre, a harmonia do encontro com o longínquo afigura-se numa identidade imediata, que confere presença ao interregno de um ano, desde o último encontro. A cultura está patente em cada país, as raízes identitárias de cada lugar, os motivos simbólicos, qual ícones, e a divulgação da luta intrínseca de cada povo. Trocam-se experiências, "arranham-se" outros idiomas e vincamos em cada palavra o sorriso - sempre o SORRISO, tão franco e permanente em todo o recinto, em cada um dos dias, em cada um (sim, cada um!!) dos rostos.
Somos tantos a circular pelas avenidas e a espraiar-se imperceptivelmente em cada lugarejo da nossa escolha. Aos encontrões inevitáveis, ao invés das carrancas soberbas do quotidiano, sobressai um sorriso (sempre o sorriso a testemunhar a festa!) e um franco pedido de desculpas. As filas necessárias para os recintos, são velozes no andamento, e confesso que não concluí se se deve ao prazer imenso de lá estar, que esbate qualquer impaciência da espera, ou se pela tamanha ordenação e disciplina naturais de cada um de nós que as fazem fluir sem cansar.
Difícil é escolher onde comer... as iguarias são tantas e diversas, que a gula desperta e a indecisão inquieta e confunde. Optei pelo Alentejo - o chão imenso do meu afecto - onde os pezinhos de coentrada rapidamente se esgotaram e os torresmos e iscas se impuseram como alternativa à altura. Mas podia ter ido à espetada e bolo do caco da Madeira, à alcatra dos Açores ou ao rancho em Vila Real... Esta festa é um roteiro gastronómico, nacional e internacional, por excelência, acompanhado dos vinhos de cada região.
Ainda não estão convencidos?!
Bom... a oferta cultural é tão vasta que não cabe aqui. Eu mesma limitei-a à feira do livro e a uma exposição de desenhos (onde se expunha, entre outros, desenhos do José Dias Coelho e do Rogério Ribeiro). No recinto do livro , cabem todas as ofertas literárias, debates e lançamentos de livros com assistência presencial de alguns autores. São horas a folhear livros e a resistir estoicamente à tentação de os trazer todos... E há a feira do disco, exposições de ciência, concertos ao vivo com atrações como os "Deolinda" , "A naifa", entre muitos outros, e vários espectáculos de teatro ao longo dos dias. Podia ainda discorrer no espaço para crianças e tantos outros para debates e concertos com grupos menos divulgados... E no café da Amizade, ponto de encontro de eleição, onde se cruzam tantos amigos e se debate a actualidade ou simplesmente a vivência de cada um...
O tempo é parco para a grandiosidade deste local, não só espacial, mas sobretudo humana e, claro, ideológica. E creiam que quem não partilha da ideologia não se sente um estranho entre os demais. É logo "integrado" neste universo excelso da Amizade, que não tem cor, seja ela de que natureza for e as diferenças são elos de encontro e intercepção.
E mais uma vez subscrevo, que não há mesmo festa como esta!

PS- E os cartazes, claro, são consonantes, e muito, muito avante...:)))

05/09/10

"VALE - mesmo - A PENA LUTAR" !!!



Ao fim não terá chegado... para as vítimas é um processo sem fim, uma memória indelével e destruidora de sonhos, de vidas...
Mas de alguma forma a justiça- tão pouco credível e desacreditada numa sociedade onde o capitalismo determina a impunidade a quem tiver mais poder e mais dinheiro - operou e a verdade vingou! A estes jovens foi-lhes restituída a dignidade, a sua honra, a veracidade da sua palavra e talvez, por isso e pelas condenações, alguma paz.
A eles, a quem nunca os desacreditou e se manteve ao seu lado incondicionalmente aos longo destes anos, o meu apreço e gratidão: daqui em diante as crianças deste país estarão mais protegidas e as suas denúncias terão, enfim, eco, repercussões e consequências legais.

"Como é que isto foi possível?! Como é que isto era possível na Casa Pia?!" - Juíza Ana Peres

31/08/10

Até já


Eu sei que este não é o deste ano, mas acham que eu resistiria a postar este cartaz?!!:))))))
Vemo-nos na festa, então. :))

29/08/10

Miragem

... na deambulação modorrenta dos domingos, abri um livro de Torga (Antologia Poética) ao acaso, para postar este poema:

Passa um navio ao largo dos meus olhos
(os meus olhos, agora, são azuis,
Imensos e navegáveis...).
Passa moroso, como um desejo
Insatisfeito.
Passa, e morre desfeito
Em bruma de ilusão
Na curva do horizonte cruciante
Que cerca a solidão
de quem sonha, tolhido, um cais distante...

Miguel Torga

28/08/10

Triste teste

Este vídeo é dos mais chocantes que vi ultimamente. Lastimável, vergonhoso, triste...
Deparei-me com o mesmo no facebook, através de um amigo, e perturbou-me de tal forma que achei que o devia denunciar por todas as formas possíveis.
O racismo é ignominioso e desonroso da condição humana. E é cruelmente incentivado desde a infância.
Este teste é triste, de facto triste.:((
E indecente!

26/08/10

Ramos da mesma raíz

José Sócrates foi a Mangualde responder ao discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal. Ora, como este nada disse, aquele nada adiantou. O Pontal foi um equívoco. Mangualde, uma inutilidade. Entendamo-los, aos dois comícios, como puro exercício eleitoralista tocado a quatro mãos, ou troca de correspondência pública entre duas pessoas que não sabem o que fazer com Portugal.

Porque a questão é essa. O "meu remorso de todos nós" de que o O'Neill falou, terna e amargamente, continua a ser "golpe até ao osso / fome sem entretém." Mas Passos e Sócrates não são exemplares únicos: eles repre-sentam, tipicamente, no sentido lukacsiano do termo, a ausência de nação, a inexistência de correcção tácita, a falta de referentes culturais. Foram estes, os referentes culturais, que formaram as melhores gerações de portugueses. Tínhamo-nos em que nos apoiar; sustentávamo-nos com os exemplos e, com isso, suportávamos o quase insuportável.

Tanto Sócrates como Passos na- da nos dizem. Não possuem back-ground, são produtos do mesmo berço ideológico que se rege pela carência de ideologia; procedem de uma intenção "doutrinária" sem graça, sem imaginação e, sobretudo, sem aquela grandeza que converte a esperança em sonho e o sonho em destino. A política, para ambos, é uma organização de agenda, um empreendimento sem qualidade áurea, que vive dos telejornais da noite, enfim: uma teologia estabelecida por assessores, que depaupera o humano e liquida a mais leve insubmissão. Atentemos nos discursos do Pontal e de Mangualde: são intervenções destinadas ao pressuposto, muito semelhantes porque nenhum dos protagonistas arrisca, desafia, afronta, desinquieta - e é incompetente para mudar, alterar, reconstruir do que sobra das cinzas. Nós não figuramos nos seus projectos, porque eles apenas alimentam projectos pessoais de poder.

Os portugueses têm dificuldades múltiplas em se adaptar a este tempo, marcado pela indiferença, pela má-fé, pela traição e ilustrado pela ignorância triunfante. O friso de "notáveis", apresentado, diariamente, pelas televisões, não é um parêntesis temporário, espelha as evidências que delimitam o nosso futuro. E isso tem medo.

Todos criticamos, de um modo ou de outro, estes senhores, mas eles resultam das nossas inépcias e das deficiências culturais que nos não abandonam. Pontal e Mangualde são ramos da mesma raiz, expressões melancólicas e desventuradas de um país cabisbaixo, desprovido de paixão e de fervor.

Vivemos no mito de que a democracia agitaria o nosso histórico torpor e edificaria a nossa risonha felicidade. Mas a democracia tinha mais que fazer do que se preocupar com ninharias. Sócrates e Passos garantem que o sonho perdeu toda a vigência.


Baptista Bastos, in DN de 25/08/2010

23/08/10

Niños de la calle



...De todas, a mais bonita canção de Patxi Andion!

La casa se queda sola



Para a Maria, que me permitiu conhecer este cantor. A minha alma enlevou-se...
Lindo!

Tu não...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner


" Se carácter custa caro, pago (pagamos) o preço..."