13/10/11

As eleições na Madeira

De longe, fiz por acompanhar, pela comunicação social, o máximo do curso eleitoral de domingo. Ao fim de algumas horas , consolidados os resultados, senti-me combalida pela(s) surpresa (s) imprevisíveis de tal escrutínio. Nestes dias, além de alguma instrospecção - sim, há que pensar e depreender acerca do mundo que nos cerca, pois o anlfabetismo político (oh Brecht!) pode perfeitamente rematar os acontecimentos de domingo - tenho abordado e até debatido o assunto com alguns amigos, de várias facções partidárias, sejam do continente sejam da Madeira. A incompreensão é o denominador comum das nossas conclusões , o que nos frustra em matéria interpretativa.

Concluir acerca da transferência de votos do PSD para o CDS é fácil, dadas as circunstâncias, seja por insatisfação do regime (vou chamar-lhe assim) seja por estrangulamento democrático ou mesmo por temor do que se avizinha em matéria financeira. A Madeira afirmou-se, é inequívoco, como uma região de direita. Até aqui, por mais que a minha linha política não se identifique com tal cenário e me assista alguma incredulidade pelo apoio às políticas que correm, eu só tenho que respeitar (obviamente) e acatar a decisão do povo.

Discorrer sobre a descida (mais que) significativa do PS , e apesar da desilusão pelo logro da esperança de se afirmar como uma força de oposição de esquerda necessária neste panorama, também não é difícil (mesmo que superficialmente)... do que entendi ( e mesmo no meu hemisfério privado) o líder não espoletou empatia no eleitorado e a mensagem sebastianista (ou entendida como tal) não encontrou respaldo, inclusive, em pessoas que desde há muito elegiam o PS como a sua afirmação de protesto ao jardinismo. Para onde foram estes votos? Sou levada a concluir que para a (triste e envergonhada) elevada abstenção eleitoral (o PSD também desaguou nesta corrente de privação do direito cívico-político...). Mas!... também para o CDS. Pasmos? Pois... admitindo não ter grande expressão percentual, conto-vos que ao almoçar com duas amigas de sempre ( aquelas que são irmãs e de afectos viscerais) e ao abordarmos as eleições que viriam, admitiram que tendo votado sempre PS, desta vez estavam indecisas e o mais provável era que entregassem a sua confiança (?) , a sua esperança, ao CDS. Indignada, insisti: "Porquê?". A resposta: "Porque não me identifico com o candidato do PS, porque votar em Jardim jamais e nos restantes candidatos não vale a pena.". Ainda fiz campanha no almoço, confesso, tentei rebater um raciocínio que me aparentava redutor e pouco reflexivo... mas a amizade tem mistérios que nos fazem acatar a decisão do outro sem alaridos hostis capazes de nos apartar.

Eis que o ininteligível e obscuro havia de emergir no painel eleitoral: a expressão do partido do Sr. Coelho (vou denominar assim a facção que representou pois não me merece outra designação) e a eleição de um deputado do PND (??)- eleição sem o "fenómeno Coelho"!!, o que é ainda amis assustador, dada a conotação fascista destes elementos!.

Quanto ao PAN e Partido da Terra... terem elegido cada um, um deputado é o reflexo não só de uma corrente "romântica" onde emerge a protecção dos animais, do planeta, etc, como a dispersão do protesto "inócuo" face ao descontentamento geral.

Ontem alguém me falava em "manobras de diversão" eleitoral... é aqui que se sustenta a eleição de três (três!!) deputados pelo partido do Coelho e um do PND. Neste processo eleitoral, o circo leporídeo (em detrimento do pão da "arena romana") surripiou votos não só ao PSD (porque este é um aspecto a ponderar face a tamanha expressão , até porque vociferaram um discurso anti-jardiinista desde o início) mas à CDU e ao BE. Assistir a uma campanha populista, onde a arte circence assente em espectáculos tristes e sem graça de exibicionismo do número de "palhaços pobres" conduziu-me a uma conclusão: estes fenómenos - no caso, o "fenómeno coelho" - não são mais do que produtos do jardinismo na semelhança do seu eco e ressonância exacebarbada.

O resultado das últimas eleições da Madeira só pode ser explicado pela máquina jardinista ( que impera desde 1978!!), ou seja, um regime que se perpetua a si mesmo, assegurando em longevidade o seu assento social e parlamentar, mas também em desvios de pretensa oposição inconsistente e inconsciente, desonesta e pouco séria.

É de relembrar que estes sistemas com carácter "autocrático" são uma engrenagem (lembram-se de Soeiro?) difícil de desconstruir. E os trinta e tantos anos de jardinismo continuará ( e por mais um tempo) a produzir este tipo de "fenómenos", ainda mais quando subtraíu consecutivamente a cultura, por exemplo, capaz de exercitar as mentes, desenvolver o pensamento, incrementar as escolhas em consciência... enfim, Cocteau diria : preteriu-se a cultura pois seria uma ameaça ao sistema. Um povo iletrado ( não tenho ousadia para dizer analfabeto) é um povo amestrado...

E, sim, não entendo a descida da CDU num contexto tão particular, de dizimação social em várias frentes, de ataques inconcebíveis aos direitos laborais conquistados, tantas vezes com a VIDA de homens e mulheres... Independementemente - creiam - de qualquer militância ou simpatia partidária, a CDU- Madeira é uma força de uma coerência e verticalidade traduzidas em trabalho e empenho como poucos... é vê-la no terreno todos os dias, persistentemente, arduamente também, a labutar pela dignidade humana! E deparar-se com o resultado eleitoral que a limitou para metade no assento parlamentar é incompreensível... mesmo! Ainda mais face à manifestação burlesca e ridícula do Coelho...

Mesmo reflectindo ao longo destes dias, admito: não entendo o escrutinío das últimas eleições da Madeira.

Aguardem-se agora os espectáculos circences da assembleia regional entre palhaços ricos e pobres... o que seria "pouco nocivo" não fosse a repercussão nefasta que terá no povo madeirense...

:((