15/05/10

Desabafo, em escrita livre...


Os sentimentos escorrem como os veios nas encostas. Mudos e visíveis.
Quando irrompeste neste vale recôndito e frágil, acolhi-te com a paixão de quem recebe o que sempre ansiou. Sem freios, que logo se transmutaram no medo da dor que, desde sempre, me infligiste.

Foi um tempo, em que os sentidos se aviltavam na mira de te ter. Os pensamentos cingiam-se à proximidade de te ver. Toda eu, fui entrega, sem condição, sem restrição…
Não me arrependo, pese embora esta dor que não passa. Repetiria tudo, mesmo ciente da frieza e desprezo, que em todo este tempo, me minou.

Foste quem quis e amei. Nos meus excessos e defeitos, que me estreitaram a ti, que me apartaram de ti… Acolhi-te no mais doce de mim, embalando as tuas dores e carências.
Irei-me na tua crueldade, quando, por mais de uma vez, me ditaste ao abandono do silêncio e do desdém.

Amei a tua força e carácter. Esse teu ser agitado e nervoso, aninhado em memórias de afecto e valores. Esse teu suplício inquieto de justiça. O teu desassossego…
A tua luta pela integridade, por um mundo menos desigual. A tua frontalidade destemida e arrojada. O teu sorriso e insanidade sadia. O teu humor incongruente e irónico. A tua voz de cadência doce. Os teus lábios pejados de vida. O teu corpo exaltante e trémulo. Os teus abraços gigantes, de menino. O teu olhar de brilho triste. As palavras mudas que dizias. A poesia de todo o teu ser…

Mas a exaustão apossou-se de mim, o desespero de saber que jamais te teria. A tristeza de me saber apenas o momento que te arredava do tumulto doloroso da existência. Era só uma passagem entre os riachos que discorriam no teu ser… Logo te esvaziavas de mim, de cada vez que eu me insuflava de ti.

E eu sonhava… com as promessas que não cumpriste. Com as palavras ébrias que um dia proferiste.

Enternecia… Com as coincidências que trazíamos, o mesmo olhar, um pensamento comum que confluía na raiz de um ideal, a mesma cepa de onde partimos, apartados pelo mar e pelo tempo… Éramos “gémeos”, concordámos um dia.

E eu acreditei.

5 comentários:

O Puma disse...

Belo o texto sentido

um hino partilhado

Bjs tantos

Fernando Samuel disse...

Belo texto!

Um beijo.

svasconcelos disse...

Aos dois: um beijo.

Paula Amaral disse...

Um verdadeiro retrato, bem pintado e sentido.

svasconcelos disse...

Paula: Obrigada. Bem-vinda.:))