21/10/09

O camareiro

Este é um trabalho ímpar no panorama artístico actual.Trata-se de uma peça magistralmente encenada (encenação de João Mota) e sustentada por um elenco irrepreensível.
O texto , de Ronald Harwood, que além de dramaturgo é também guionista (lembram-se do filme O Pianista?) é de uma profundidade tocante e simultâneamente crítico e filosófico. Em traços gerais retrata o universo teatral "do avesso", ou seja transporta-nos aos bastidores de um teatro onde as emoções se atropelam, os medos se exarcebam, o improviso é previsível e, num reboliço de actores, efeitos de contra-regra e "bombardeamentos" (a tramóia ocorre em plena guerra e o espectáculo, dentro do espectáculo, é assolado por vezes com explosões bélicas) o enredo assume-se como um ode afectivo ao Teatro. Pelo meio, no decorrer da trama, expõem-se outros afectos, os que despontam nos bastidores de uma companhia de teatro, em que o actor principal era também um empresário e seu director. Destes afectos, há um que sobressai pela dedicação incondicional, inquestionável e eterna ao seu "sir". Trata-se do camareiro, soberbamente interpretado pelo Virgílio Castelo. A construção do personagem (o Norman) é arrepiante, com recurso à técnica, sim, mas sobressai porque o Virgílio se "entrega" de tal forma ao camareiro, que ante nós, espectadores, perpassa um desfile de emoções que não raras vezes nos arrepia no despontar de lágrimas e gargalhadas...
E depois há o Ruy de Carvalho ("Sir"), do qual será difícil rebuscar adjectivos que já não o tenham dignificado e tributado. Não sei qualificá-lo, é um actor majestoso! Vê-lo é um privilégio absoluto, é uma memória que se grava para sempre dentro de nós. É uma aprendizagem, uma estupefacção pelo talento, pela humanidade que ele emprega nos seus personagens...
Por ele, confirma-se, que "Ninguém ama tão rebarbativamente e desalmadamente como o actor"!

(Esta peça está em cena no teatro nacional D. Maria II até ao dia 25 de Outubro.)

2 comentários:

Fernando Samuel disse...

Já a perdi - e lendo o que escreveste, tenho pena.

Um beijo.

svasconcelos disse...

Dia 25 é hoje! Vai!!
:))
beijo,