25/10/09

Dez réis de esperança



Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.

Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.

Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente.

Aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio
encosto da vidraça da janela

Não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
ouviram, viram, ouviram,viram,
e não perceberam.

Essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule,
flutuando no pranto do desencanto.

Se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

António Gedeão


Se não fosse a esperança, o ardor das convicções e a veemência dos valores, restaria muito pouco a muitos de nós...

4 comentários:

Armando Sena disse...

E vamos ter, um dia quem sabe, mas de certeza, um poema da autora.

Fernando Samuel disse...

Muito pouco, quase nada, nada...

um beijo.

Nelson Ricardo disse...

Perante os "valores" do Capitalismo. Cultura descartável, filosofia fast-food, opressão massiva e rotineira. Quem apresenta valores como os comunistas, vê neles um escudo de aço perante a imoralidade capitalista.

svasconcelos disse...

Armando: Acredita que os mestres que elegi são bem melhores:) beijos

Fernando Samuel:e nem me lembro do que possa restar. :) beijos

Nelson Ricardo: bem-vindo. :)