Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente.
Aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio
encosto da vidraça da janela
Não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
ouviram, viram, ouviram,viram,
e não perceberam.
Essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule,
flutuando no pranto do desencanto.
Se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
Se não fosse a esperança, o ardor das convicções e a veemência dos valores, restaria muito pouco a muitos de nós...
4 comentários:
E vamos ter, um dia quem sabe, mas de certeza, um poema da autora.
Muito pouco, quase nada, nada...
um beijo.
Perante os "valores" do Capitalismo. Cultura descartável, filosofia fast-food, opressão massiva e rotineira. Quem apresenta valores como os comunistas, vê neles um escudo de aço perante a imoralidade capitalista.
Armando: Acredita que os mestres que elegi são bem melhores:) beijos
Fernando Samuel:e nem me lembro do que possa restar. :) beijos
Nelson Ricardo: bem-vindo. :)
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