21/03/11

Não é música



Não é música o que ouvimos.
Não é de água este brilho de prata.

Eu estou aqui sobre as pontes do rio.
Outros são os que espreitam pela bruma das margens.

Talvez me lembre:
tu vinhas devagar pelo lado das acácias.
Cingias cada árvore e as colunas, os braços de um
deus cruel, o saber dos templos.

Não é um salmo o que ouvimos.
Não é de harpas este lamento,
não é o ofício das mãos esculpindo um rosto,
não é a palavra de deus que ecoa nas escarpas.

Algures te ocultas e não deixas sinais.
Quem és tu
cujo perfil se desvanece, cuja doçura se perde nos
confins da tarde?

Eu estou aqui onde se unem as margens, onde escurecem
as sendas e as sombras,
onde correm as nuvens, as pedras, as águas.

Outros são os que te aguardam pelo lado das acácias.


José Agostinho Baptista

(... É bonito celebrar a poesia, essa entidade que se atropela em palavras que nascem no coração e, tantas vezes, se articulam num protesto, porque "a poesia é uma arma").

2 comentários:

Fernando Samuel disse...

Viva a Poesia!, pois claro.

Um beijo.

svasconcelos disse...

Fernando Samuel: a poesia é muito!.:)) Um beijo