Do primeiro, ficou-me a impressão de uma história comovente e perturbadora narrada na primeira pessoa, e que não é mais do que uma reflexão aprofundada de pensamentos que nos assolam com frequência, mas fugazmente (porque a nossa ânsia de eternidade a mais não o permite), sobre a finitude da nossa existência e, mais ainda, a daqueles que amamos. Esta é a história de uma mulher (mas que poderia ser qualquer um/a de nós) que se confronta com a inimaginável e abrupta partida dos dois seres que aconchegaram a sua vida ao longo de décadas, o seu companheiro e a sua filha. É o relato da fatalidade que inevitavelmente nos sucederá a todos (até porque é assente em circunstâncias reais)... capaz de agitar os nossos medos e de emergir inquietações a que nos esquivamos em permanência. Mas é também uma história de reconciliação e de reencontro com a vida que sobeja, pela memória dos que partiram, sim, mas sobretudo pelo encargo que nos cabe em mover os sentidos da nossa existência. É, talvez, um perdão à própria morte...
A Eunice Muñoz encarrega-se desta narrativa e, goste-se ou não, ela reafirma-se com uma grande senhora do nosso palco.
O concerto do Ary.... aqui faltam-me palavras que sintetizem esse concerto indelével na minha vida. Uma casa cheia, não só de gente, mas de emoções várias onde a saudade, pareceu-me, atropelava todas as outras. Só conheço o Ary pelos poemas e pela voz de raras pessoas com quem me cruzei e que também o conheceram, muitos só de relance. Mas sempre me impressionou a força que a palavra assume nos seus poemas. Uma força bruta, que arrebata e emudece quem a lê, mas sobretudo quem a sente. A palavra, pela voz do Ary, pela mão do Ary, assume tantos contornos que é impossível caracterizá-la. Ela é emoção, ternura, paixão, humanidade, revolta, ideologia, coerência, frontalidade, ironia, humor... Lê-lo e ouvi-lo é ser-se tomado por esta amalgama de significados, que afinal só se poderá resumir desta forma: ARY!
O vídeo que antecedeu o concerto foi comovente. As palmas insurgiram-se em tantos remates dos seus versos, pois em cada um deles emergia uma mensagem sempre presente, sempre actual, capaz de revolver os nossos sentimentos.
Que Homem este! Que dignidade, que verticalidade! Um homem que na verdade nunca partiu, que é impossível deixar partir...
"Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo.
As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros."
(...)
4 comentários:
So surpresas Silvia. Da Eunice Muñoz nem tanto, mas do Carlos Carmo...gostei.
Boas férias.
Ary SEMPRE
Estará sempre connosco - e nós sempre com a sua Poesia a dar força à nossa luta.
Um beijo.
Armando: Carlos do Carmo é uma das grandes vozes do nosso palco;comove-me.
bjs,
Puma: ... o nosso poeta da revolução.:)
Fernando Samuel: não tenho dúvidas que estará. O vídeo que precedeu o concerto parecia uma declamação ao vivo do Ary. Era impossível não sentir que ele estava ali.
beijo,
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