Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lá...bios resolutos
...Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta
Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido
Tenra seara continhas
Visivel já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura
Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto
Carlos Aboim Inglez
6 comentários:
O crime foi em Maio, em Baleizão...
Um beijo.
Para que não se esqueça.
Um abraço,
mário
Fernando Samuel: e é importante não o deixar esquecer! Um beijo,
Mário: Exacto! E nunca mais se repita!
beijo,
Estes poetas são flores no meio de queimadas, cor no meio da desolação.
Beijo.
Acho que estamos regressando rapidamente e em força às condições de escravatura contra as quais ela morreu lutando.
Saudações
Samuel : são isso, sim, e a fonte onde vamos beber (mais) inspiração para a nossa luta! beijo,
São: bem-vinda.:)Concordo contigo,a regressão dos direitos conquistados à custa de vidas (como a da Catarina) é assustadora.
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