Era um gato rico
com ar delicado
usava coleira
com nome gravado
vivia na casa
de uma velha dama
comia na mesa
dormia na cama
era um caso sério
para o arrancar
de ao pé da lareira
onde queria estar
não ligava a nada
passava a manhã
a brincar sozinho
com fios de lã
era um gato fino
e muito esquisito
só comia açorda
com peixinho frito
mas um dia a velha
deu-lhe o badagaio
já não sei se a dois
ou a três de maio
e o gato sem velha
viu-se muito aflito:
faltou-lhe a açorda
e o peixinho frito
deixou de enlear
fios à lareira
teve de acabar
com a brincadeira
chegou um herdeiro
e pô-lo a viver
no olho da rua
com frio de morrer
perdeu quase um quilo
ao fim de oito dias
e além da fome
só tinha arrelias:
quando se aprestava
p´ra caçar um pombo
atiraram-lhe água
por cima do lombo
de outra vez escondeu-se
por causa da chuva
numa casa antiga
que é de uma viúva
mas chegou a filha
que tem mau feitio
chegou-lhe no pelo:
foi um desvario!
mesmo assim andava
daí em diante
por sobre os telhados
com ar importante
julgava-se mais
do que os outros gatos
metia-lhe nojo
vê-los caçar ratos
passou este gato
que eu não digo o nome
umas vezes frio
outras vezes fome
até que num dia
a fome era tanta
que até lhe fazia
dores na garganta
não podia mais
sentiu-se a morrer
caiu para a frente
e deixou de ver
mas quando acordou
ao fim de um bocado
soube que afinal
tinha desmaiado
quem o socorreu
foram outros gatos
que lhe deram queijo
com pernas de ratos
e trataram dele
com carinho e zelo
tiraram-lhe a febre
escovaram-lhe o pelo
e quando acabou
de ter calafrios
ficou muito amigo
dos gatos vadios
e agora já sabe
que entre os animais
os pobres e os ricos
são todos iguais
e pensa consigo
enquanto ronrona:
mais vale ter amigos
que ter uma dona!
Joaquim Pessoa
com ar delicado
usava coleira
com nome gravado
vivia na casa
de uma velha dama
comia na mesa
dormia na cama
era um caso sério
para o arrancar
de ao pé da lareira
onde queria estar
não ligava a nada
passava a manhã
a brincar sozinho
com fios de lã
era um gato fino
e muito esquisito
só comia açorda
com peixinho frito
mas um dia a velha
deu-lhe o badagaio
já não sei se a dois
ou a três de maio
e o gato sem velha
viu-se muito aflito:
faltou-lhe a açorda
e o peixinho frito
deixou de enlear
fios à lareira
teve de acabar
com a brincadeira
chegou um herdeiro
e pô-lo a viver
no olho da rua
com frio de morrer
perdeu quase um quilo
ao fim de oito dias
e além da fome
só tinha arrelias:
quando se aprestava
p´ra caçar um pombo
atiraram-lhe água
por cima do lombo
de outra vez escondeu-se
por causa da chuva
numa casa antiga
que é de uma viúva
mas chegou a filha
que tem mau feitio
chegou-lhe no pelo:
foi um desvario!
mesmo assim andava
daí em diante
por sobre os telhados
com ar importante
julgava-se mais
do que os outros gatos
metia-lhe nojo
vê-los caçar ratos
passou este gato
que eu não digo o nome
umas vezes frio
outras vezes fome
até que num dia
a fome era tanta
que até lhe fazia
dores na garganta
não podia mais
sentiu-se a morrer
caiu para a frente
e deixou de ver
mas quando acordou
ao fim de um bocado
soube que afinal
tinha desmaiado
quem o socorreu
foram outros gatos
que lhe deram queijo
com pernas de ratos
e trataram dele
com carinho e zelo
tiraram-lhe a febre
escovaram-lhe o pelo
e quando acabou
de ter calafrios
ficou muito amigo
dos gatos vadios
e agora já sabe
que entre os animais
os pobres e os ricos
são todos iguais
e pensa consigo
enquanto ronrona:
mais vale ter amigos
que ter uma dona!
Joaquim Pessoa
* Um poema para crianças e também para graúdos, com uma mensagem e componente moral enternecedora ...
Adenda: A foto foi tirada por mim a um gato de rua que vive num parque em Espanha, mas que tinha um ar tão majestoso e tão bem tratado, que podia ser o gato do poema, o que perdeu a dona mas encontrou amigos e... liberdade. E o seu próprio caminho.
7 comentários:
Lindo!!!
Beijo, Sílvia.
Boa noite,
Quando for dar de comer aos meus protegidos da rua, vou ler-lhes este poema.
Não vão perceber nada, mas basta eu fazer-lhes uma festa, para serem iguais à "baronesa" que tenho em casa.
Que seria dela sozinha? Ela, que tem medo até da própria sombra? Estraguei-a com mimos mas, os que lhe dou a mais, são na maior parte das vezes a pensar nos que não têm nenhuns...
Gostei muito!
César
eh eh, muito oportuno. Vamos todos voltar aos livros infantis onde está a versadeira filosofia de vida.
Ora aí está: os amigos são o melhor que há.
Um beijo.
Se todo o povo aprendesse a lição do gato,ai,ai.
Um abraço,
mário
Alguns animais têm a sorte de serem irracionais... ao contrário do bicho-homem. :-)
(tenho mesmo que encontrar aquele poema do Joaquim, que musiquei...)
Abreijo.
Maria: é, não é?:)) beijo,
César: Lê-lhes sim!:) Os marqueses e baroneses dos palácios e solares nem sempre sabem o que é ter amigos...Consola-me que nos vejam como um. Não acho que os estraguemos com os mimos, esses não podem ser demais, mas com as nossas imposições, mesmo que involuntárias, sim...:(
beijo,
Armando: e não é tens razão?!:)) Um beijo,
Fernando Samuel: os amigos e a liberdade.:) Um beijo
Mário: somos mais "bichos" que eles...Um beijo,
Samuel: encontra quanto antes!! e partilha-o! :)) Um beijo,
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