17/02/10

Que se hasteiem os braços!


A nossa geração - olho-a com tristeza!
É vazio ou é negro seu porvir,
Ao peso do saber e da incerteza,
Vai envelhecendo sem agir.
Tanto ao bem como ao mal indiferentes
Na luta recuamos sem combater,
Diante do perigo cobardes, indolentes,
Desprezíveis escravos ante o poder.
Desprezamos dos avós as alegrias,
A sua pueril devassidão;
E caminhamos para a cova sem honra nem glória,
Olhando para trás com irrisão.
Mikhail Lermontov
Um dia destes, num jantar, concordei com um amigo que era revoltante e incompreensível esta apatia generalizada face ao despudor escancarado dos nossos (ditos) governantes. Assiste-se a uma desvergonha, a uma impudência de uma matilha de poderosos e não ultrapassamos os comentários de café, sibilas amedrontadas, sussuros de indignação que se desfazem de seguida quando outros estímulos se sobrepõem. É a indolência instalada, o medo que se enraíza, o comodismo da covardia que se arrumam para não perturbar o sistema "organizado" pela conveniência desta canalha.
E depois todos se admiram com vassalos de carácter tão servil como oportunista, de indivíduos que andam de gatas pelos partidos do poder a corromper todo um colectivo em benefício de uma corja corrupta, prevaricadora e venal que nos (des) governa.
O meu amigo, em tom de desabafo e num limite de exaustão por tantas lutas que travou (e ainda trava...) defendia, que não sendo apologista do terrorismo, por vezes pensava que" isto só ia à metralhadora" (leia-se insurreição, rebelião popular). Não passou da expansão de uma tensão que se vem instalando dentro de nós face ao desfile de notícias de suspeição ( e confirmação!) de um Governo escandaloso e obsceno.
Eu defendo que se hasteiem os braços! Porque a Luta é o caminho.
Este poema de M. Lermontov, escritor russo e poeta romântico do séc. XIX, não podia ser mais contemporâneo...

3 comentários:

Fernando Samuel disse...

E a foto do Sebastião Salgado também...

Um beijo.

O Puma disse...

E os punhos

svasconcelos disse...

Fernando Samuel: sim:) beijo,

O Puma: pois... que se hasteiem os punhos, era o que me devia ter ocorrido.:) bjs,