26/06/11
As canções que ouvimos...
"Há sempre tempo para uma canção. Para quem vive tranquilo
e sozinho a canção é como a lua, uma boa companheira que
invariavelmente tem sede à hora a que costumam abrir os ba-
res. Seja qual for a canção. Não sei se pensas da mesma ma-
neira, mas o importante é que penses, ainda que de maneira
diferente.
Uma canção?, poderás perguntar. Por quê uma canção?, pode-
rás admirar-te. Eu digo-te. Uma canção é um bocado de ale-
gria, um bocado de melancolia, um bocado de nós. Uma can-
ção pode ser violência, brutalidade, perdão, loucura. E noite,
pele, paixão, incêndio. E também pode ser sacrifício, e frio, e
sofrimento.
E tudo o que o dia treme. E tudo o que a noite guarda.
Uma canção é silenciosa como as lágrimas, dolorosa como as
lágrimas, feliz como as lágrimas, irrepetível como as lágrimas.
Uma canção dói, agride, transforma, acalma, substitui, ilumi-
na, mas também chateia, também cansa, também destrói. E dá,
muitas vezes, vontade de cantar. Quantos suicidas teriam he-
sitado se, antes, tivessem tido tempo para ouvir uma canção?
E quantos outros gestos e decisões guardámos para depois
porque não pudemos também, antes, escutar uma canção? A
canção tem temperatura. E tem cor. E sentimentos. Pode cau-
sar medo e pode ser heróica. E pode desanimar ou incutir es-
perança. Cada canção é de todos, mas é mais de uns do que
dos outros.
É preciso que te identifiques com as tuas canções. Elas dir-te-
-ão o que um só homem não pode dizer-te, mas o que, atra-
vés dos homens, Deus procura que te seja dito."
Joaquim Pessoa
23/06/11
Ainda Torga
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga
21/06/11
Regresso
... de regresso ocorreu-me este poema, não o lia há muito, muito mesmo:
Regresso
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, da distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
05/06/11
Férias!
04/06/11
03/06/11
Antes de amar-te
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.´
Pablo Neruda
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.´
Pablo Neruda
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