Dificilmente até eu terei noção da dimensão da catástrofe que assolou a Madeira. O meu relato pessoal deste dia será o de desespero e aflição por não saber nada dos meus. As linhas
telefónicas estavam inoperacionais e as notícias que me chegavam eram as da televisão e da internet. Imagens incríveis que descaracterizavam o Funchal, cenários de filmes de horror.
Passar um dia e uma noite sem conseguir saber se a nossa mãe está bem, e outros parentes próximos, assistindo ao longe a relatos jornalísticos de que , precisamente , a zona em que eles habitam foi castigada por enxurradas impetuosas, é de um tormento tal que não sei dizer... só as lágrimas traçam a história de uma dor desesperante e impotente, qual urro mudo, cujo eco estilhaçava cada ínfima parte de mim.
Hoje, pela madrugada, pude, por fim, saber deles e ouvir-lhes relatos de terror e sofrimento. Confesso que pouco lhes ouvia, entre lágrimas e sorrisos indisfarçáveis, valia-me, enfim, a certeza de que estavam todos bem, mesmo que ainda isolados e com poucos mantimentos.
Descreviam-me situações como: " Foi um dilúvio, Sílvia, pensava que nunca mais te via...";
" Corriam pedregulhos loucos pelas encostas, chegámos a pensar que era um tremor de terra. O sr. Agostinho escondeu-se atrás da porta a chorar"; " O muro que sustenta a minha casa ruíu e há a eminência de haver ainda nova derrocada ."; "A capela e as casas próximas foram arrastadas pela força da água, encosta abaixo. Desapareceu tudo."; " O nosso caminho está barrado por lama, pedras enormes, carros arrastados, haveres de casas..."; "Ainda estamos isolados, não pude ir ontem ao supermercado, não tenho muita comida em casa"; " Fomos para casa da D. Rita, tivemos tanto medo..." e o mais importante: "Estamos vivos, filha."
Sim, e agora levantar-nos-emos TODOS do chão!
É tempo de reerguer-se!
7 comentários:
Um beijo muito grande e carregado de solidariedade.
Quando neste país betonado
a força da natureza se manifesta
resta.nos chorar
Bjs
Fernando Samuel: levarei o teu beijo ao Funchal, assim que consiga lá ir. Obrigada. :(
Mar Arável: para já nem consigo pensar no betão, ordenamento de território ou radares metereológicos que ali falharam... só penso obcessivamente nos que perderam as suas vidas e nos seus familiares. E eu aqui, impotente, sem poder ir para o terreno ajudar a reconstruir...;/
bjs,
Força Sílvia, é altura de levantar a cabeça. Folgo em saber que os teus estão bem.
Beijo.
Armando: Obrigada. Alguns ainda isolados, mas bem, sim. beijo.
Horas terríveis para quem as viveu, no silêncio ou no meio do tumulto. Agora, é tempo de reconstruir. Coragem, Sílvia.
Godgil: Obrigada! Hoje finalmente pude ir ao Funchal, o empreendimento da população para elevar a cidade é exemplar. beijo,
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