A dor sulcou-lhe dois vincos no rosto. Quando uma lágrima insistente lhe causticou o sorriso que outrora ostentava, o torpor acompanhou-a e prostrou-a.
Fulminou-a um brilho que supôs a promessa dos seus anseios, pelas palavras de um Homem que imprimira com o grande "agá" (H). Soltaram-se odes que a paixão ecoou e as laudes de um amanhecer que descaía na partilha do Ideal. Depressa se fez prisioneira de uma quimera onde o afecto, a verdade, a lealdade e a frontalidade se aparentavam na confluência de dois seres que, afinal, não existiram.
O Homem fez-se menino, e ao invés da promessa que um dia discorreu da doçura dos seus lábios, vagueou na atrocidade de silêncios e mentiras, quais punhais lapidares, que a desertaram na eternidade... Não foi solitária nessa dor. O menino devastava sentimentos, semeava sofrimentos, nos trilhos sinuosos onde se moveu como um predador. E aos protestos - tantos!, e aos urros da dor irreprimível de tanta gente, convertia o discurso em proveito próprio, vitimizando-se. Depois recolhia-se num mundo impenetrável, carregado de frieza e revanchismo, de tristeza e solidão.
Como a fugir...
Por tantas vezes seguiu-o. O olhar que lhe devotava vislumbrava-o, apesar de tudo, como um menino agigantado pela carência dos afectos que repudiou. Na resiliência da alma que tinha, debateu-se por si e por tantos outros, empunhando a revolta, o grito que bradava a força da sua crença. Mas também se perdeu no impropério violento e corrosivo que lhe minou a razão. Era um menino, afinal: as emoções apropriavam-se brutalmente do seu ser, sem a antevisão de consequências, nem tão pouco das susceptibilidades e filigrana dos sentimentos alheios.
Amou-o, porém, na plenitude das suas imperfeições. Mas também na convicção de que no âmago deste homem, era um
menino gigante que se avultava. Soubesse alguém amá-lo, soubesse ele deixar-se amar...e a grandeza da sua alma emergeria dos escombros tumultuosos, onde se quer perder.
Sem deixar de o entrever, ela partiu.
Mas estará sempre onde, só ele, a saberá encontrar...
6 comentários:
Já passei aqui duas vezes e não sei o que te dizer.
Deixo um abraço...
Excelente (e belo) texto.
Um beijo.
Maria: o teu abraço foi sentido! Obrigada. beijo,
Fernando Samuel: Um beijo.
Já passei por aqui muitas vezes, li e reli. Toca fundo....
Desde o testemunho sobre o "Lancinha" que visito o seu blogg, só hoje tomei a liberdade de me manifestar. Gosto de vir aqui. Obrigada. Felicidades.
Paula: O Lancinha, pois... :)) Um homem tão bonito que pude vislumbrar na fugacidade de um enontro...
É muito bem-vinda cá.:)) bjs,
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