Outro poeta, a que me é difícil não retornar. Como o pseudónimo o designa, a sua poesia, como a torga, irrompe da aridez dos solos com uma força de raíz que arrebata, e comove...
Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma.
Miguel Torga,
in 'Penas do Purgatório'
3 comentários:
Muito belo o poema. A melhor estrada para o Conhecimento e a Verdade é a recusa de quaisquer deuses e a aceitação da Realidade como ela é.
Não ter nenhum deus não é estar sozinho...
Um beijo.
Nelson Ricardo: É belo sim, e os deuses, sabe-se, comprovadamente, que não solucionam nada nem fazem "milagres"... bjs,
Fernando Samuel: pois não, e como diz o Nelson Ricardo, podem ser fonte de desconhecimento do essencial... Beijo,
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