OS OLHOS DAS CRIANÇAS
Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.
Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.
Sidónio Muralha
Há um ano e meio, li o livro enunciado na foto. Não me cabe discorrer sobre o processo que relata, nem é o meu propósito aqui, não obstante o facto de achar que este livro, um dia, será uma peça fundamental para a reconstituição histórica do processo, e averiguação de verdades que ficaram silenciadas.
A escolha desta fotografia prende-se essencialmente com o título "A dor das crianças não mente", uma verdade irrefutável, que qualquer sensibilidade apreende de imediato.
O poema de Sidónio Muralha , dos mais comoventes e enternecedores que conheço, reafirma-o.
Por isso, roubando a mensagem ao poema: "gritemos por elas", as crianças "com lágrimas no rosto e medo transidas", as que "nunca foram meninos" , as que não mentem quando a dor as tolhe, e corrói a infância.
Porque não há dor capaz de mentir! Sobretudo a das crianças!
A25A
Há 2 dias
3 comentários:
Também
as que nunca foram meninos
Não, a dor das crianças não mente.
Um beijo.
Mar Arável: como as dos Esteiros, as dos Capitães de Areia, as da Casa Pia...Infâncias roubadas. Cabe-nos gritar (LUTAR!) por elas. Beijo,
Fernando Samuel: as crianças não têm a arte matreira da simulação das emoções. É urgente protegê-las! Beijo,
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