Por Baptista-Bastos no DN de hojeNão dei a mão ao Governo: dei a mão ao País", disse Pedro Passos Coelho. É uma metáfora sorridente, destinada a justificar o conúbio deste PSD com o PS que por aí penosamente se move. A metáfora é uma forma de encantamento, e a dissimulação do que se não deseja abertamente dizer. Ao pretender salvar a pátria, deprimida e confusa, com um tropo linguístico, Passos coloca Sócrates num lugar errante e subalterno. Por seu turno, este, em Espanha, enche aquele de elogios, utilizando, também, uma metáfora, a do tango, para afirmar, ante uma plateia estupefacta, ter, agora, com quem dançar. Uma cena deprimente.
Sócrates já esvaziara de direcção e de sentido a sua política e a sua presunção. Mentiras, omissões, deambulações absurdas, uma certa pusilanimidade decisória tinham-lhe apagado o estilo e embaciado o retrato. Falou-se em arrogância o que, de facto, era falta de convicção, ausência de livros, ambiguidade ideológica. Está a descer rapidamente a rampa. Não sinto o mais escasso contentamento com dizer isto; pelo contrário.
Pedro Passos Coelho apercebeu-se da debilidade. E, igualmente, da oportunidade surgida das indecisões do adversário e do evidente mal-estar no PS. Até o cauteloso e matreiro Seguro, que sempre preferira expressar-se com frases evasivas e castos comentários, começou a protestar, no objectivo essencial de tomar lugar no proscénio. O PS anda numa deriva interminável e só agora o cândido moço desperta, com sobressalto. António José Seguro não passa, realmente, do rasto das coisas.
Quanto a Passos Coelho, ele sabe que não embarcou numa aventura perigosa. Se Sócrates cair, ele não se estatela porque desempenhou o bondoso papel de preferir a pátria ao partido. Acaso Sócrates sair vencedor destes imbróglios e surja aos olhos dos paisanos como a Fénix renascida, Passos Coelho desfrutará do lugar daquele que procedeu a grandes magnitudes e a decentíssimos comportamentos políticos.
José Sócrates talvez ainda se não tenha apercebido, ou apercebeu- -se e gosta da vaidade lisonjeada, de que está rodeado de sabujos, uma gente degradante, para quem o exercício de pensar é uma embaraçosa maçada. Basta assistir aos preopinantes que o defendem para aquilatarmos da natureza dos seus caracteres e da substância do que dizem. O caso da protelação do apoio a Manuel Alegre é uma pequena vingança de pequenos medíocres, sem aprumo nem grandeza, que chegam a espadeirar-se no insulto rasteiro.
O Governo é um descalabro, e o PS um partido enfermo pelo poder. Há uma corrosão acentuada na sociedade portuguesa. A impostura adquiriu carta de alforria: ninguém é culpado, ninguém é responsabilizado. Quem nos acode?
4 comentários:
Sempre arguto Batista Bastos, um dos poucos no DN que dá gosto ler. À pergunta de quem nos acode, fácil...ou nós mesmos, o povo, ou ninguém.
E já agora: no governo, qual é a diferença entre PS e PSD nos últimos 34 anos?
Um beijo.
Nelson Ricardo,
disse bem:
- Ou nós mesmos, o povo, ou ninguém!
Começa a ficar estranho deixar-nos encarneirar, e demitir-nos do exercício de colocar os pontos nos iis!
Está visto que confiar nas chefias já deu o que tinha a dar!
Cada um puxa para o seu lado e, assim, ninguém vai a lado nenhum!
O grito de que o povo é quem mais ordena, está a fazer falta, e as pessoas têm de se mobilizar!
E têm de se concentrar à volta de quem achem, e acharão..., que possa liderar ordeira e em consciência, as massas!
Penso que não é dificil!
César
Fernando Samuel: tem-se visto... que é inexistente. beijo,
Nelson Ricardo: de acordo, o "povo é quem mais ordena!". É o povo quem tem de se insurgir contra esta política, que tem provas sobejamente dadas de que não resulta. É o povo que tem de se acudir!
bjs,
César Ramos: Chega de carneirismo!
Bem-vindo. :)
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