O Governo de Timor-Leste aprovou, ontem, o envio de 750 mil dólares norte-americanos (556 mil euros) para ajuda às vítimas da tragédia na Madeira.
A decisão do Executivo de Xanana Gusmão é justificada, em comunicado divulgado pela agência Lusa, como sendo um acto de 'solidariedade e apoio para com o povo e autoridades' da Região. Antes, já o Presidente timorense, José Ramos-Horta, tinha enviado uma mensagem de condolências ao seu homólogo português.
"Nem um tostão" de Jardim
O gesto do Governo de Timor, independentemente do drama que afecta a Madeira, obriga a recordar declarações antigas em sentido contrário. Em Agosto de 1999, quando Timor era palco da destruição provocada pelas milícias pró-Indonésia e em todo o mundo se multiplicavam as manifestações de solidariedade e o envio de ajuda financeira, na Madeira, as posições oficiais foram diferentes.
De férias no Porto Santo, Alberto João Jardim garantiu que a Madeira não daria "um tostão" para Timor e que não admitia que o Estado português "mexesse" nas transferências a que a Região tinha direito. 'Nem um tostão para Timor' foi uma frase que provocou as mais duras reacções, em todo o País.
"A filosofia popular ensinou-me que cada um se deve governar por si", acrescentaria o presidente do Governo Regional, a 29 de Agosto de 1999.
Mais tarde, depois de muita polémica, na Região e no Continente, a Quinta Vigia acabaria por emendar a mão, embora de forma simbólica. Jardim disse que nunca esteve contra a ajuda ao povo timorense, mas apenas que a Madeira não podia prescindir de dinheiro para esses apoios.
No dia em que se realizou, no Funchal, uma vigília de solidariedade para com o povo maubere, o Governo Regional prometeu aprovar uma ajuda financeira. Um apoio que se iria traduzir numa resolução em que eram aprovados cinco mil euros de ajuda. Uma verba que Jardim só admitia entregar às autoridades timorenses e não às entidades portuguesas que reuniam as ajudas.
A oposição regional não deixou passar sem comentário esta alteração de posições, como já fizera em relação à recusa de 'um tostão' para Timor. Mota Torres (PS) exigiu que Jardim pedisse desculpa pelo que tinha dito e José Manuel Rodrigues (CDS), concluiu que o líder do PSD se tinha "vergado" à opinião pública e prometeu estar "vigilante" para ver se a promessa era cumprida.
Depois, já em 2000, durante uma viagem oficial à volta do Mundo, o líder madeirense diria que nem os cinco mil euros iam para Timor.
A frase que gerou tanta polémica - "nem um tostão para Timor" - tem acompanhado Jardim, sempre que o tema é o País de Xanana Gusmão.
País muito pobre
Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo e continua, desde a independência, em Maio de 2002, numa fase de reconstrução e criação de infra-estruturas básicas.
Esta ajuda financeira para a reconstrução da Madeira, modesta se for vista no quadro das ajudas internacionais que deverão chegar, tem um significado maior quando vista à luz do orçamento do País.
Madeira gasta o dobro
Em 2009, o orçamento da República Democrática de Timor Lorosae foi de 902 milhões de dólares, pouco mais de 644 milhões de euros. Uma verba que é mais de duas vezes inferior ao orçamento da Região Autónoma da Madeira que é de cerca de 1.500 milhões de euros.
A título de curiosidade, a ajuda de 556 mil euros, ou 111 mil contos na moeda antiga, representa, 433 escudos por madeirense (256 mil habitantes), qualquer coisa como 4.330 tostões a cada um.
Jorge Freitas Sousa, in Diário de Notícias, da Madeira (26-02-2010)
A25A
Há 1 dia
3 comentários:
De facto os tartufos
andam à solta
Puma: Moliére descreveu-os bem... E esta foi a melhor resposta, e com uma dignidade inigualável, que Timor podia ter dado. "o estalo com luva branca".
bjs
Só que o Jardim é um burro velho, daqueles que não aprendem nada...
Um beijo.
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