Os dias carregam-se de lágrimas no rumorejar da tristeza que se abrigou em nós. E vertem, elas, na erupção de gritos silenciados, bradando aos deuses que se aquietem, que tanta dor não é justiça!
A Julieta era mãe de todos nós, dos filhos e dos amigos dos filhos. Era uma mãe Gorkiana, que se esmerava em lutas, mesmo que não fossem as dela, eram as dos filhos e isso bastava! E depois adoptava-as para si , tomando-as como suas.
Vi-a lutar com tanta força por cada um dos seus filhos, devotava-lhes um amor que tantas vezes me confessou, colhia-lhes os erros, os devaneios, amparava-os incondicionalmente... E a Julieta, doente, nervosa, jamais quebrava quando era hora de reerguer os filhos. Tinha a compreensão pela mudança, que na sua idade era ainda mais admirável. Pelos filhos, pelo amor imenso que lhes tinha, derrubou cegueiras morais e sociais, superou preconceitos, acatou as diferenças... lutou, lutou!...
E entre nós era alegre, uma fonte jovial, um sorriso franco e incontido, de gargalhadas quase estridentes, um olhar semicerrado de onde discorria tanto afecto... pelos filhos, e pelos amigos dos filhos!
Não havia festa em casa dos meus amigos onde a Julieta não partilhasse os nossos desvarios, era parte de nós. Não nos censurava o comportamento, ria-se das conversas disparatadas que tinhamos, opinava nos nossos debates, entrava nas graçolas... gostava tanto de nós, a mãe Julieta!
O temporal levou-a. Nesses dias o coração vacilou ante a catástrofe e desde então começou a partir, dia a dia, numa despedida lenta e silenciosa que, porém, em nós, nos filhos, e nos amigos dos filhos!, emana em rugidos de revolta porque esta, ainda, não era a hora!!
Até sempre Julieta!
Nós também gostámos tanto, tanto de si!!... Obrigada.
A25A
Há 1 dia
2 comentários:
Obrigado por este texto maravilhoso. Fizeste-me chorar...
Um beijo muito fraterno.
Fernando Samuel: Um beijo muito grande e amigo para ti. Obrigada.
:(
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