Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota
de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e
sou, umas
vezes constelação e outras vezes árvore,
tantas vezes equilíbrio,
outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério,
recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual
consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam
o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas.
Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade
que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se
alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do
sofrimento.
Conta comigo sempre.
Piso as mesmas pedras que tu pisas,
ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo
quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo
repartirei também a minha fome mas, e
sobretudo, repartirei até
o que é indivisível.
Tu sabes onde estou. Sabes como me chamo.
Estarei presente
quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora
decisiva e não encontrares mais esperança,
quando a tua antiga
coragem vacilar.
Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas
flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que
interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as
respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais
sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.
Joaquim Pessoa
5 comentários:
Admirável poema - bem ajustado ao regresso...
Um beijo.
Bela volta, fez-se luz, fizeste agulha, novo rumo?
Excelente memória
de sempre
Admirável regresso.
Um abraço,
mário
Fernando Samuel: É Joaquim Pessoa, para mim, um dos Grandes. beijo
Armando: os regressos nem sempre me são favoráveis, trago sempre um rasto de nostalgia e saudade... beijos,
Mar Arável: a de Joaquim pessoa é-o, mesmo! beijo,
Mário: mérito do Joaquim Pessoa.:) beijos,
Enviar um comentário