O teu aniversário era sempre uma grande festa. Toda a família rumava a tua casa, onde , invariavelmente, te esperava uma prenda grandiosa, que aquela que te amou congeminava meses a fio e que, não raras vezes, se endividava para ta ofertar. Lembro-me, tão menina ainda, de passar uma tarde deste dia hipnotizada por um televisor a cores, único nos quarteirões circundantes, que nesse dia coroara o teu aniversário. A tua vaidade, porém , era discreta, mas o teu contentamento não. Esboçavas tenuemente um sorriso franco, encoberto pelo bigode, mas os teus olhos acusavam-te sempre. Eras grato. Como a avó. E tão bonito!
Sem to ter dito,eu gostava tanto de ti! Não falávamos muito quando nos juntávamos, mesmo quando me sentava ao teu lado, na mesa, e a teu pedido. Mas é certo, que ao fim daquele tempo, tinha partilhado mais contigo do que um qualquer discurso o faria. Tinhas-me afecto, sabia-o. Sobretudo sentia-o ao pé de ti.
E só quando partiste, abruptamente, percebi porque é que eu gostava tanto de ti: "Quando eras bébé, o tio, assim que chegava a casa,perguntava por ti e ia ver-te, embevecido. À noite, se choravas, levantava-se para te ir buscar."
Não tenho memória do teu colo, mas a ternura com que me olhavas embalou-me em tantos momentos partilhados. E gravou-se-me tão fundo, que a tua ausência se fez notar muito mais.
Não descuravas o meu aniversário, era bonita a tua lembrança: " O tio lembrava-se sempre de ti!". E era bom ouvir-te, o teu sorriso dócil sentia-se, mesmo quando falávamos de longe.
Naquela manhã, acordei incomodada e quando desliguei o telefone ao teu filho (tão igual a ti, ele, nem imaginas!) senti-me incapaz de prosseguir o meu dia... Ainda hoje não sei porquê, mas pressenti-te a partida, e as lágrimas, em desespero, impediam-me a nitidez da voz para dizer à tua irmã que estavas muito doente. Foi o dia mais amargo da minha vida... O dia em que corri, absurdamente, pelos corredores de um hospital para chegar a ti, a tempo de te dizer adeus.
Carrego além da saudade imensa que tenho de ti, a dor daquela que tanto te amou... Passaram cinco anos e quando a abraço, é como se te estreitasse também a ti. As suas lágrimas inconformadas ainda gritam por ti. " A cada dia tenho mais saudades do teu tio...- diz-me" e eu, impotente, pesada de tanto pesar, sou incapaz de me pronunciar face à grandeza deste amor.
Parabéns tio!, estejas onde estiveres..
SAUDADE!
:(
4 comentários:
Nunca morre quem é recordado com tanto carinho.
Um abraço,
mário
Um belo e nobre sentimento, a Saudade. Beijos
É assim a saudade: triste mas bela...
Um beijo.
Mário: também acho que não. A memória afectiva aviva-os!
beijo,
Armando: ... e doloroso também:(
Beijo,
Fernando Samuel: uma dualidade, sim...
beijo,
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