Entendamo nos:
falar de ti e dos teus olhos de garça enevoados
seria talvez tão vulgar como enumerar as coisas simples e nisso
não há qualquer desafio
Existe apenas uma razão íntima como a de quem
não gosta de se repetir ou de estar de costas voltadas para o mar
amando o imprevisto como um sinal de alarme
Também falar de mim poderia tornar se perigoso
se me virasse para dentro habitando a minha memória e não
a memória de todos os meus dias habitando a minha memória e não
A memória de todos os meus dias: Fariseu único
de um Templo de Escadas Rolantes
quando vejo mudar a água em sangue
e arregaçar as mangas para transformar uma seara em pão
não deixando ao diabo esse trabalho de
mostrar que a realidade não é o que é
mas sempre o outro lado da indiferença
E bato as esquinas levando a pederneira
com que se acendem os poemas que alimentam as primeiras esperanças
atravessando nas passagens de peões com a precaução da caça perseguida
e a preocupação de me dar
desinventando mágoas repartindo alegrias
como quem escreve um tratado de amizade
num país de vidro onde a dor está mais escondida
que os ovos da codorniz no coraçção da erva
Joaquim Pessoa*
3 comentários:
Belíssimo e grande Joaquim Pessoa!
Obrigada...
Um beijo
Este poema eu não conhecia. Obrigado.
Um beijo.
Maria: eu adoro este poeta!
beijo!
Fernando Samuel: E é lindo:))
Um beijo,
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