Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais feliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
(...)
José Carlos Ary dos Santos
4 comentários:
Saudades muitas
Dói pensar que as elites de hoje estejam a desmantelar as conquistas de Abril. As conquistas que repuseram a dignidade do homem e da mulher comum. Do trabalhador. Do jovem. Do poeta. O direito à vida digna devia ser inviolável.
Mas acredito, há que acreditar, que quem violenta a dignidade do outro, não há-de esperar pela demora. Os povos não dormem e a História não tem fim.
Mar Arável: temos todos... bjs
Nelson Ricardo: a regressão da dignidade humana e dos direitos conquistados, tantas vezes com sangue, são assustadores. E a indiferença e o marasmo vigentes são terrícos...
bjs,
O Poeta da Revolução!
Um beijo.
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