28/01/11

Os senhores da Guerra

(Pedro Osório)

Os senhores da guerra
São os reis da competência
Matam dez mil homens
Sem problemas de consciência

Se não fosse a economia
De mercado concorrente
Decerto os senhores da guerra
Não matavam tanta gente

A guerra é um bom negócio
Que não se pode perder
As armas só dão lucro
Se houver a quem as vender
E todos nós tarde ou cedo
Temos de morrer

Os senhores da guerra
Fazem contas cuidadosas
Deixam dois por cento
Para obras caridosas

Calcula-se o rendimento
Em função do investido
O lucro é de 3000 dólares
Por cada corpo abatido

Biafra ou Palestina
Bangla Desh ou Polinésia
O Chile ou a Argentina
A Coreia ou a Indonésia
Fornecem carne p'ra canhão
Em primeira mão

Os senhores da guerra
São pessoas respeitáveis
Vão passar as férias
Em montanhas saudáveis

Mergulham as carnes tenras
Em piscinas de água quente
Enquanto os seus mercenários
Matam muita, muita gente

E cada nova guerra
Que conseguem fabricar
Será mais um mercado
P'ra morrer e p'ra pagar
Até que o dia chegará
Em que a bomba rebentará
Nas suas mãos
E a guerra terminará.

24/01/11

Miriam Makeba - A Luta Continua



Ao passear pelo Youtube cruzei-me com a Miriam Makeba. Já não a ouvia desde a minha convivência, na faculdade, com uns amigos da Guiné, país onde ela viveu depois de ser "afastada" dos EUA, por activismo, ao lado do seu companheiro. Esta sul-africana, além de cantora foi também uma activista notável dos direitos humanos, e em particular uma lutadora acérrima pela extinção do apartheid.
São pessoas como a Miriam que transformam o mundo, "passo a passo", pela convicção, pela persistência, pelo humanismo impulsionador da força que não as deixa sucumbir...

Mudaria, na letra desta canção, o país: em vez de Moçambique que se oiça Portugal e que se cante com a Miriam:
"My brothers and sisters: stand up and sing!"

23/01/11

Fado conformado :-(


" Q'mais queres tu, plebeu
se num país de sol te deixam
andar nu?
(Tal como eu)
E p'ra que queres o céu
se não tens asas nem vontade
de voar
por sobre as casas?
De que te serve o mar
se não arriscas pôr o peito
numa onda
e não petiscas?
E pr'a que queres saber
do teu futuro se não tens unhas
nem tentas
saltar o muro?
Pr'a que queres o sonho então
Se não acordas? Nunca em casa
d'enforcado
fales em cordas "
(retirado do blogue "A gata Blimunda" - Obrigada Cid)

22/01/11

Porque o Povo Diz Verdades


Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os
tiranos,

Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.

Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dão estrume capaz.

Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso àquela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno.

António Aleixo

18/01/11

Dolphin and Dog - Song of the Seas by Vangelis.wmv



Outra história de Amizade, onde as diferenças, neste caso de espécie (mas podiam ser tantas outras... e nós , humanos, somos exímios em dar-lhes tanta importância...) , não são um impedimento para que essa Amizade se expresse em tanta ternura...

17/01/11

O Futuro

O Ary é um residente deste espaço, não é a primeira vez (e sei que não será a última) que me socorro das suas palavras para que expressem o meu próprio pensamento. E a propósito das lutas que se travam no dia a dia, aparentemente imperceptíveis, sobretudo para quem não as quer vislumbrar; do retrocesso das mesmas, do cansaço que as faz recuar, mas sobretudo da esperança que as impulsiona e do futuro que constroem, tomam-me sempre estas palavras: "Isto vai, meus amigos, isto vai!"
Vai, sim, Ary, eu sei que vai, talvez já no dia 23, porque de cada vez que se vota é o futuro que se escolhe!

O Futuro

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente.

Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente.

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.

José Carlos Ary dos Santos

ps: lia há pouco no blogue da Maria que amanhã, dia 18 de janeiro , é o aniversário da morte do Ary.:(

13/01/11

" O analfabeto político"



Pelos corredores dos cafés debate-te a futilidade, que um povo, convenientemente iletrado, toma como o sustentáculo da sua existência, absorvendo para si problemas que lhe são estranhos.
Homicídios recentes, males (ou bens) alheios dos mediáticos do palco cor-de -rosa e outras expressões pobres de consciência social e humana, sentam-se à mesa impondo o domínio nas contendas, e relegam para mais tarde as discussões urgentes e eminentes de debate numa sociedade que definha a cada dia pela mão de um bando de mercenários que nos governam (e desgovernam) :

Centenas de trabalhadores em eminência de serem despedidos nos próximos tempos;
A saúde está em vias de se tornar um negócio ;
A educação, desde que se impuseram as propinas, é-o cada vez mais;
Centenas de casas entregues à banca por impossibilidade real de pagamento;
Um número não oficial de crianças que só se alimenta porque (ainda) vai à escola;
A iletracia, que deve muito à irresponsável política vigente, é emergente , e alarmante;
O custo de vida cada vez mais incomportável para tantas famílias, reformados, desempregados, etc... ;
Aumentos escabrosos de bens essenciais e outros difíceis de suplantar e substituir no contexto social e laboral em vigor;
Políticas despesistas que escancaram alguns jornais no auge da crise (desde a trapalhada dos carros blindados a promoções amiguistas que anteciparam os cortes salariais, etc);
Uma maioria de candidatos promotores de uma campanha pobre de ideias (e de ideais!) e sem a afirmação de um programa de campanha claro e coerente...
E tantos outros atentados a que somos continuamente sujeitos por esta cáfila governante!,
...mas... à mesa dos cafés, o Mourinho, o Ronaldo, e outras "vedetas" da praça colorida do meu país, banem as conversas de relevância cívica e social e confinam-nas a ninharias pelas quais o nosso mundo nem sequer "pula e avança".:(
Lembro-me sempre de Brecht:
"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. "

09/01/11

Inti Illimani - Canción del poder popular



Acabei de ouvir esta música no blogue "O cantigueiro", é tão emotiva, tão rica de esperança e força, mensageira de futuro e alento, e tão a propósito do nosso contexto eleitoral, que não hesitei em surripiar-lhe a ideia de a postar também aqui (tenho a certeza que ele não levará a mal ter-lhe plagiado a ideia).
Parafraseando a letra da música, não se trata só de mudar de presidente, mas de fazer de Portugal um país diferente!
Esse, construído por nós, com a primeira pedra já no dia 23!

06/01/11

Da inépcia como virtude

(ou o infortúnio dos portugueses, digo eu ...)

"Devo confessar, à puridade, um desejo modesto, porém ardente: gostava de que o Presidente fosse um homem culto, lido, cordial e descontraído. Não o é. E o meu recatado desgosto consiste no facto de ele desencadear, com as deficiências culturais e aleijões de carácter que demonstra, um generalizado reflexo condicionado. Os dez anos que levou de primeiro-ministro constituíram um cerco e o esmagamento das desenvolturas e das exaltações que o 25 de Abril nos tinha proporcionado. O País cedeu ao mito do político severo, austero, hirto e denso. E admitiu, como sua, a imagem brunida que ele expunha. Um chato. Mas um chato perigoso por aquilo que representa.
Nada tenho de pessoal contra o senhor. Ele pertence a uma sociedade velha e relha, que apenas assegura formas de autoritarismo. Estes cinco anos de Presidência acentuaram o infortúnio. Os debates nas televisões foram expressivos do desagrado que algumas intervenções causavam no dr. Cavaco. Trejeitos de ira, e contorções dos músculos faciais, movimento descomedido dos lábios, frases desmedidamente agressivas. A medonha panóplia de exercícios paliativos forneceu-nos a estirpe do indivíduo e a compleição do político.
O pior foi o discurso da quadra. Se o de José Sócrates representou a vacuidade total, o do dr. Cavaco fundamentou a admissão de uma era vindoura de incertezas. Apenas a reiterada advertência de que "eu bem avisei a tempo". O disperso, confuso e absurdo afastamento de responsabilidades que também lhe cabe. Depois, o caso do BPN e da Caixa Geral de Depósitos. Então, as debilidades da natureza moral do candidato emergiram de roldão. Ao acusar de incompetência a administração do banco das fraudes, trucidou alguns dos seus antigos comparsas de Governo, entre os quais o perplexo e honesto Faria de Oliveira. Procedeu como o fizera com Fernando Nogueira, Santana Lopes, Fernando Lima: serviu-se e descartou-se. Perante as acusações de tibieza que lhe foram feitas, o homem, atabalhoadamente, tentou proteger-se usando o pretexto que lhe é comum: disse que não dissera o que tinha dito e acusou os jornalistas de interpretação abusiva. Uma televisão retransmitiu a verdade dos factos e as declarações proferidas. Nem por isso o prevaricador se retractou.
Já cansa repetir que o dr. Cavaco é um incidente desgraçado na nossa história próxima recente. Metáfora de um país sem juízo, também não chega. Ele resulta de uma confusão entre a ignorância e a beatífica admissão de uma cultura de aparências. Surpreende (o não?) haver gente de envergadura intelectual e moral a apoiar, para reeleição, uma criatura que, por incultura, inépcia e desadequação nunca encontrou a fórmula de viver e de actuar perto das questões e do coração dos portugueses. "

BAPTISTA-BASTOS

04/01/11

O gato rico

Era um gato rico
com ar delicado
usava coleira
com nome gravado
vivia na casa
de uma velha dama
comia na mesa
dormia na cama
era um caso sério
para o arrancar
de ao pé da lareira
onde queria estar
não ligava a nada
passava a manhã
a brincar sozinho
com fios de lã
era um gato fino
e muito esquisito
só comia açorda
com peixinho frito
mas um dia a velha
deu-lhe o badagaio
já não sei se a dois
ou a três de maio
e o gato sem velha
viu-se muito aflito:
faltou-lhe a açorda
e o peixinho frito
deixou de enlear
fios à lareira
teve de acabar
com a brincadeira
chegou um herdeiro
e pô-lo a viver
no olho da rua
com frio de morrer
perdeu quase um quilo
ao fim de oito dias
e além da fome
só tinha arrelias:
quando se aprestava
p´ra caçar um pombo
atiraram-lhe água
por cima do lombo
de outra vez escondeu-se
por causa da chuva
numa casa antiga
que é de uma viúva
mas chegou a filha
que tem mau feitio
chegou-lhe no pelo:
foi um desvario!
mesmo assim andava
daí em diante
por sobre os telhados
com ar importante
julgava-se mais
do que os outros gatos
metia-lhe nojo
vê-los caçar ratos
passou este gato
que eu não digo o nome
umas vezes frio
outras vezes fome
até que num dia
a fome era tanta
que até lhe fazia
dores na garganta
não podia mais
sentiu-se a morrer
caiu para a frente
e deixou de ver
mas quando acordou
ao fim de um bocado
soube que afinal
tinha desmaiado
quem o socorreu
foram outros gatos
que lhe deram queijo
com pernas de ratos
e trataram dele
com carinho e zelo
tiraram-lhe a febre
escovaram-lhe o pelo
e quando acabou
de ter calafrios
ficou muito amigo
dos gatos vadios
e agora já sabe
que entre os animais
os pobres e os ricos
são todos iguais
e pensa consigo
enquanto ronrona:
mais vale ter amigos
que ter uma dona
!
Joaquim Pessoa
* Um poema para crianças e também para graúdos, com uma mensagem e componente moral enternecedora ...
Adenda: A foto foi tirada por mim a um gato de rua que vive num parque em Espanha, mas que tinha um ar tão majestoso e tão bem tratado, que podia ser o gato do poema, o que perdeu a dona mas encontrou amigos e... liberdade. E o seu próprio caminho.

01/01/11

Porque não me vês



Para a entrada deste blogue em 2011, uma música de Fausto, pela voz e leitura da Né Ladeiras.
Tinha saudades de a ouvir...